sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sowoneul Malhaeppwa*

Uma casa com nove mulheres encafifadas. É assim que sempre imagino o grupo de Korean Pop [K-Pop], Girl's Generation [So Nyuh Shi Dae ou SNSD]. Pense nas turnês [hahaha]!

Composto por nove garotas, SNSD é uma das girl-bands de maior sucesso da Coréia do Sul. É difícil imaginar essas fia disputando o centro do palco, mas confie nos coreanos para te dar um espetáculo em Pop, tão hipnótico, que você nem se importará em diferenciá-las, quiçá saber o nome de cada uma.

A experiência é própria. Meu obstáculo inicial com SNSD era a constante matemática em saber quem era cada qual; ainda mais essas coreanas que pintam/cortam os cabelos a cada clipe, virando pessoas completamente diferentes. Além disso, as vozes [multiplicadas ou recortadas pelas produções frenéticas de suas canções] eram adocicadas demais, enjoadas demais. Até que foi exatamente isso que passou a ser minha característica favorita em Girls' Generation.

A vantagem de se ouvir música numa língua absurda é que se pode focar apenas na música. No caso de SNSD, foi uma apresentação do single Tell Me Your Wish (Genie). Aquelas dezoito pernas se movimentando era estonteante! A dança é um elemento importantíssimo no K-Pop e eis, a princípio, o que importa em Girls' Generation, acima da possibilidade de identificar cada membro: essas meninas sabiam executar coreografias truncadas e dificílimas, cantando [sobre playback, óbvio!] lindas e loiras.


Os Álbuns de 2011

Oh!/Run Devil Run
The Boys
Girls' Generation

Se a melhor figura para descrever a música de SNSD é a que usei no início do texto, é porque as canções muitas vezes soam como um bando de mulheres falando ao mesmo tempo. Irritante? Bastante; mas só quem é acostumado com a constante presença feminina entende o quanto isso pode ser inebriante. Para se abrir ao torpor da excelente produção das canções, aconselho alterar a consciência: uma sonolenta viagem de ônibus, cannabis, LSD, dez minutos de corrida na esteira ou elíptico... já experimentei todas com muita eficácia, pois além de refrões, batidas e sintetizadores ora psicodélicos, suas vozes têm harmonizações que te transportam para seja lá que mundo essas garotas pertençam.

O primeiro álbum delas que viciei foi o último, lançado em outubro passado, The Boys [SM Entertainment/Universal, 2011]. A faixa-título é um dance powerhouse de primeiríssima qualidade, co-assinado por Teddy Riley [Micheal Jackson, Bobby Brown], recheada por uma batida certeira, vocais e gemidos envolventes. Outros destaques do álbum são o segundo single, Mr. Taxi, as doces Lazy Girl e Telepathy, a retrô[zinha] Say Yes e, o Pop de ouro, Trick.

Daí foi apenas um pulo em marcha-ré para o fenomenal segundo álbum. Oh!/Run Devil Run [SM Entertainment, 2010] contém três dos melhores singles de So Nyuh Shi Dae: o Pop sofisticado de Run Devil Run e, os singles lançados pré-álbum - a dignamente popular Gee e a supracitada "Genie" - todos de sonoridade diferente, mas mantendo a qualidade girlie da banda. "Gee" soa como uma canção de Barbies [no clipe Girls' Generation são manequins que magicamente ganham vida após o horário comercial], mas a batida infantil e a sonoridade de conto de fada são apaixonantes. Já "Genie" é outra faixa Dance de arrebatar os cabelos.


Para quem curte Pop bem produzido, SNSD é como um desejo. Para iniciantes no K-Pop, dar conta de todo o grupo requer paciência, porém o carisma de suas produções [canções, clipes, imagens] atraem qualquer adolescente hiperativa e os adultos que não deixaram para trás o gosto por Pop fácil, de absorção e vício rápidos e satisfatórios. De cara, Girls' Generation é uma manufatura refinada para as paradas de sucesso da música asiática, contudo, não dói nada que seja um produto de tão deleitável.


*Sowoneul malhaeppwa: Conte-me seu desejo


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Info de Girls' Generation: Wikipedia

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Social Media Hipster Divas - Parte 2

Os Álbuns de 2011
Introduction/Experiments
Florrie

Continuando minha apreciação pela ilusão de proximidade na internet, há Florence Arnold, ou simplesmente Florrie. Linda, loira e de pernas longilíneas de supermodel, esta britânica me apareceu pelo guia essencial de música Pop, o site Popjustice. Ex-baterista da casa de produtores Xenomania [responsável pela discografia do Girls Aloud e o melhor hit de Cher: Believe], Florrie encerrou suas atividades no grupo para focar em sua carreira musical como um ato solo.

Multi-instrumentalista [além de bateria, ela toca violão/guitarra e ukelele], em seu site oficial Florrie explica seu projeto sintonizado com o novo modelo de mercado musical na internet. Basicamente, ao invés de procurar um contrato com gravadora, Florrie decidiu produzir música independentemente, postando em seu site as canções e remixes conforme ficavam prontos e se apresentando em live gigs.

Porém, tudo começou a se desenvolver em junho de 2010 quando fora escolhida como o rosto do perfume Nina L'Elixir, da marca Nina Ricci. Seu cover de Sunday Girl [Blondie] foi tema do comercial de TV e, a partir daí, as portas se abriram pra ela - principalmente no circuito da moda -, tendo feito trabalhos de modelo para outras marcas, como Dolce & Gabbana.



Em novembro do ano passado ela lançou seu primeiro EP, Introduction, contendo quatro faixas: a excitante, meio Pop Rock, Call Of The Wild, as pop standards Give Me Your Love e Summer Nights, e a absolutamente romântica Left Too Late. Posteriormente, em abril deste ano, ela lança via iTunes o segundo EP Experiments, uma evolução sonora comparada com o primeiro.

Na altura do lançamento deste, Florrie declarou que ainda vem experimentando sons [por isso o nome] para, enfim, encontrar uma identidade ideal para sua música. "Experiments" tem um som mais sofisticado e contemplativo que as canções lançadas até então. Abrindo num ritmo acelerado com Speed Of Light, a coisa toma um rumo mais glamouroso com Experimenting With Rugs, uma balada que traz à mente o charme inerente de cantoras francesas, como Françoise Hardy.



Na seguinte, What You Doing This For, ela murmura num infalivelmente romântico falsete sobre o fim do romance numa relação. Em Begging Me e She Always Gets What She Wants, mostra certa ironia, tratando garotos como irremediáveis bobos quando apaixonados.



Entre um pocket show e participações em algum festival ou outro, no último verão europeu, Florrie está sempre de volta ao estúdio para composição de mais músicas, com um EP a ser lançado até o fim do ano. Tudo acompanhável pelo seu site, Twitter e Facebook, onde ela interage efetivamente com sua crescente base de fãs. Essa acessibilidade em dias de hoje é mais que necessária para novos artistas, e tem dado a ela espaço cada vez maior para um LP. Enquanto não acontece, é bom acompanhar sua trajetória pela web.

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Info de Florrie: Florrie.com
Álbuns de 2011:

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Social Media Hipster Divas - Parte 1

Se há alguns anos eu ficava maravilhado com a possibilidade infinita de se descobrir artistas na world-wide-web, as coisas ficaram mais brilhantes com as redes sociais, pois não existe nada mais excitante para um aficionado por música do que ter contato direto com seu artista favorito. Facebook te proporciona isso em certo nível e, mesmo que não se admita, notar que seu ídolo está a 140 caracteres de distância, como no Twitter, é bem divertido.

E mesmo que, em muitos casos, seja óbvio que quem está por trás de todas aquelas maravilhosas postagens são assistentes pessoais e assessores de comunicação [ou se preferir o novo termo, assessor de mídia social], para um fã, a vaga ideia de proximidade virtual é suficiente para incendiar tudo nas nossas pobres cabecinhas fanáticas. Eu, particularmente, tenho meu grupo favorito de cantoras pop que mantenho relacionamentos de amizade profunda e divertida na mente, tudo a partir da troca de um tweet ou outro. Já me imaginei milhares de vezes indo a Berlim e tweetanto Annie Strand para me levar aos cool bars e alt clubs.

Claro que erros gramáticias tweetados por seus artistas favoritos podem doer na raiz do dente, mas a cada pedaço de letra, twitcam ou instagram postado, você se sente ainda mais próximo e satisfeito em gostar da música daquela pessoa tão legal!

Pelo menos no maravilhoso mundo da internet.

Os Álbuns de 2011
Lana Del Rey

Eis que um dia estava fuçando o perfil no Facebitch de um membro de minha banda francesa favorita, Yelle, e há uma postagem de seu novo vício:



Lana Del Rey tem causado um certo alvoroço na mídia blogueira, especialmente nos Estados Unidos. Acusada por sectários indie-hipsters de ser um produto de fabricação industrial vendido como genuinamente alternativo, Del Rey tem galgado seu espaço como a nova sensação dos cools e descolados. Apesar de filha de algum ricaço da web [o que te abre muitas portas e janelas, fato], Elizabeth Grant se lançou primariamente  postando colagens de vídeos caseiros antigos para suas músicas. Foram duas ou três faixas, até que o site Pitchfork Media tenha nomeado Video Games como a "Melhor Faixa Nova" e, daí, Del Rey se espalha pelo mundo.



Controvérsias sobre sua origem profissional aparte, Lana Del Rey tem sim apelo e qualidade musical. Novaiorquina, dona de uma voz menos poderosa do que seu timbre rasgado sugere, ela é uma mistura de diva Soul/Blues com um som melancólico e metálico... pense na qualidade agridoce da equação "dia cinzento + edredom x vinho e chocolate".

E se o debate sobre os truques publicitários de sua imagem [glamazona com boa voz e áurea alternativa] te põe em dúvidas sobre a genuinidade de suas canções, a coisa fica mais irônica quando dentre suas influências artísticas, postadas em seu Facetruq, constam de Nirvana, Elvis e Antony & The Johnsons a - aham - Britney Spears [!!].

Recentemente assinada pela Interscope Records [Lady Gaga], ela ainda está para lançar um álbum oficial. Contudo, a divina e maravilhosa Internet tem espalhadas por sua teia as faixas lançadas por Del Rey de forma independente, além de um álbum inteiro produzido pelo new wave David Khane [Paul McCartney, Stevie Nicks e Regina Spektor]. Este foi jogado pra escanteio por razões desconhecidas, mas é um bom desfile do quanto a performance dela tem as pitadas exatas de melancolia e sensualidade.

Lana Del Rey, enfim, pode ser um bom exemplo do esnobismo indie, pronto para execrar qualquer artista que botem em questão seu fantástico mundo outsider. Mas, sua música de características cinematográficas supera expectativas e é, essencialmente, linda!

Baixem Blue Jeans e Video Games, por seus halos épicos, Kill Kill, pela humanidade em não querer ver o homem que ama morrer, e Yayo, por simplesmente ser a faixa dramática que todos merecemos de tempos em tempos.

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Info de Lana Del Rey: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- Wounded Rhymes
- Cannibal
- Cinderella's Eyes
- When The Sun Goes Down
- Intro

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Lições de Blair Waldorf #2: De Rainha a Princesa

Para quem não acompanha "a melhor série dos nossos temos", Gossip Girl, vale dizer que há uma coisa maravilhosa e perfeita chamada Blair Waldorf. Rainha do Upper East Side, Blair vive o dilema da pós-adolescente moderna: escolher entre a independência inerente à mulher do século XXI e as imposições e regras milenares de um conto de fadas.

Deixando os detalhes da trama de lado, repare nos quatro stills abaixo o trabalho associado de uma fotografia bela e eficiente e uma estrela, linda e ótima atriz como Leighton Meester, em contar a história de uma rainha prestes a deixar seu reino para se tornar princesa de outro.

Blair Waldorf e seu reino atrás

A decisão

Etérea e soberana


terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Bênção da Tristeza

Apesar de geralmente gostar, eu tenho um problema com todo esse movimento Indie da música Pop. Desde que compreendi que Indie é um termo mais abrangente que apenas corruptela da palavra independent, percebi que a questão da música indie não é a música, nem os artistas que a fazem, e sim a prepotência daqueles que a ouvem e "consomem". Hipsters metidos a fora do establishment industrial do Pop, o que muitos fãs de música independente não percebem é que a própria indústria abocanhou absorveu esse segmento, sendo que hoje é bem complicado designar determinada música ou artista como independente.

Ainda assim, o termo existe e é hoje usado para qualificar um estilo, não a condição de outsider do artista. Muitos podem ser chamados de independentes pelo estilo de música que fazem [fora dos padrões mercadológicos do momento], mas a partir do instante que têm suas músicas vendidas no iTunes já não estão fora do balaio industrial.

Explicada a minha relação com a música Indie, pulemos para o que interessa.

Os Álbuns de 2011
Wounded Rhymes
Lykke Li

Em atividade desde 2007, a sueca Lykke Li provem de uma onda européia que dominou a cena independente do Pop entre 2007 e 2008. Seu debute, Youth Novels [LL, 2008] foi um festival de arranjos minimalistas que impressionou a maioria dos críticos ao redor do mundo; eu, me senti bem entediado - talvez eu devesse ter fumado mais maconha pra escutá-lo na época.

Mas seu segundo álbum, Wounded Rhymes¹ [LL, 2011] mostrou um progresso imenso em musicalidade, pois, enquanto as canções de "Novels" parecem fadadas à apreciação indie, em "Rhymes" a produção é mais arrojada, carregada num ritmo metálico, com uma Li mais rock 'n' roll e exposta, tanto no teor das letras quanto no poder vocal - que deixa a melosidade aguda do primeiro álbum, vestindo uma persona mais obscura e ardente.

O tema central do álbum, como já sugerido pelo título, é uma catarse da mágoa e da tristeza e decepção em diversos níveis. Deprimente? Sim, mas a música composta por Li e seus parceiros - Björn Yttling (produtor deste e de "Novels") e Rick Nowels (Madonna, Dido, Nelly Furtado) - estão longe da timidez do álbum anterior.

A canção de abertura, Youth Knows No Pain, é um chamado poderoso de celebração da juventude, cheia de frescor e comportamento autodestrutivo. Quando Li entoa o eloquente refrão,


So come on honey blow yourself to pieces
Come on honey give yourself completely
And do it all although you can't believe it
Youth knows no pain
Youth knows no pain
²

se reconhece a condição agridoce do jovem, que precisa se entregar, jogar e repartir em pedaços para compreender a evolução da vida. No primeiro single, I Follow Rivers, Li busca a profundidade romântica através de metáforas aquáticas e na seguinte, Love Out Of Lust, deseja a sentimentalidade da luxúria - etérea e melancólica.

Tal melancolia, presente em todo o álbum, tem seu ápice estético em Unrequited Love. O fabuloso lamento, que lembra os melhores momentos de The Reminder [Polydor, 2007] de Feist, inicia com Li em palmas e acapella declarando as dores do amor intensificadas pela não correspondência. O mais bonito da faixa, além da bela performance da cantora, são a única guitarra e o coral em eco que a acompanham, desenhando o senso de solitude da canção.

O álbum atinge seu clímax em Sadness Is A Blessing [de onde foi tirado o título do álbum], onde Lykke Li abraça a dor e a tristeza como seu único e verdadeiro companheiro e namorado. Outro lamento, "Sadness" tem um arranjo envolvente como um repentino ataque daquela tristeza que só é exorcizada se permitida a ser.
Demonstrando uma evolução notável de sua estréia, em "Wounded Rhymes" Lykke Li vem mais poderosa e confiante. Forte e eloquente, o disco é um exemplo maravilhoso de como um álbum pop pode ser um profundo estudo temático, tanto em musicalidade quanto em versos. E, aniquilando minha intriga, reconheço que muitas vezes isso só é possível quando não se tem as pressões mercadológicas sobre os ombros da criatividade. E, com esta obra, Lykke Li demonstra que a música indie pode ser espaço para a profundidade criativa, intelectual e não apenas pose.

¹Literalmente: "rimas feridas"
²Literalmente: "Então querido se exploda em pedaços/Venha e se entregue por completo/E faça tudo isso mesmo que não acredite por completo:/[Que] A juventude não conhece a dor"

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Ficha Técnica Wounded Rhymes: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- Cannibal
- Cinderella's Eyes
- When The Sun Goes Down
- Intro

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Epítome do Trash

Os Álbuns de 2011
Cannibal
Ke$ha

Depois de anos exposto e curtindo música Pop se aprende que, mesmo não gostando de determinado artista, você em algum ponto vai gostar de uma música ou álbum dele.

Ke$ha para mim sempre foi um desses produtos da nova geração simplesmente ignorável. A voz totalmente distorcida nunca foi um problema per se, o negócio eram as canções nada inovadoras em termos musicais, sobre ficar bêbado e fazer merda, superestimadas por adolescentes que mal tinham vivido um terço daquilo esganiçado por ela. Além do mais, o cabelo seboso e a cara de fedida sempre me deram nos nervos. Em suma, Ke$ha sempre fora a epítome do trash: Tre$ha!

E ainda é, só que de repente [mas não surpreendentemente], seu EP Cannibal [RCA, 2010], lançado como parte da edição deluxe de seu debute [Animal, RCA 2010], se instalou em meus ouvidos e mente exatamente por assumir e desenvolver aquilo que sempre considerei de Ke$ha: um ser tão trash e descarado. Mas que, mordendo minha bunda, pode ser até bom!

Em "Cannibal", ela descreve melhor sua persona maltrapilha e vulgar. Isso acontece, mais específica e diretamente, na fantástica Sleazy, daquelas faixas infecciosas que não é espantoso que você se pegue gostando dela de graça. Declarando não precisar de nenhum tipo de simpatia ou aprovação, ela se diverte como um pária social, de modos ruins e boca suja. E o que faz disso engraçado e até excitante é justamente a atitude nemli e despreocupada com a qual ela recita os versos, sobrepostos numa batida difícil de ignorar, se batidas são sua praia.

Enquanto os temas são os mesmos de sempre, o senso de humor dela é inegável e capaz de anestesiar sua consciência, restando apenas o delicioso instinto de se jogar na diversão. Possível hino da geração dos prazeres frívolos, We R Who We R soa nada mais nada menos como um hino, só que sem pretensão nem esforço em sê-lo. E, confesso, é bastante complicado resistir a chamados de simples e puro recreio, como acontece novamente em Blow, a melhor faixa por construir um momentum nos versos que magnificamente explode no refrão, como sugere o título. É daquelas canções em que, quando na boite, se para de fazer tudo [comprar álcool, fila do banheiro, amassos com o gostosão] pra se jogar na pista.

Quando revela mais de si mesma, ela não deixa de lado o sarcasmo, nem mesmo a autodepreciação. A faixa-título abre tudo como um chamado selvagem e sedutor, mesmo com ela declarando que vai comer seu cérebro no final de tudo [viu, nojenta!], e em Grow A Pear ela escracha um namorado que se comporta como uma mulher na TPM, numa atitude FUCK OFF capaz de te chocar ou [se você é do tipo que curte de vez em quando a vilania humana, como eu] regozijar: "you should know that I love you a lot, BUT I JUST CAN'T DATE A DUDE WITH A VAGG!"*

No fim das contas, enquanto podemos continuar torcendo nossos narizes finos e sofisticados para Ke$ha, ela  segue sendo o monstro viscoso e fedido que se propõe a ser, sem em momento algum hesitar em jogar sua gosma em nossas caras. E isso é, na minha opinião, uma atitude memorável pelo simples prazer na eventual sordidez.

Mas, se nada disso ainda te convence, tente escutar "Cannibal" em cima de uma esteira ou elíptico. Duvido que resista!

*literalmente: "você deve saber que eu te amo bastante, mas não posso simplesmente namorar um cara com uma xana!"

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Ficha Técnica Cannibal: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- Cinderella's Eyes
- When The Sun Goes Down
- Intro

Querido Jose

Sempre que me empolgo musicalmente, desejo discutir sobre isso com meu bom amigo-online de anos, Jose. Ele é hondurenho e atualmente mora na Costa Rica, onde se formou em Cinema e trabalha numa agência de viagens. Ele tem um ótimo blog, o Movies Kick Ass, no qual posta ótimas críticas cinematográficas.

Numa conversa de minutos atrás pelo Facebitch conversamos sobre o maravilhoso álbum solo de Nicola Roberts, um dos meus favoritos do ano, como relatei na postagem anterior. Na verdade verdadeira, fiz um breve monólogo sobre algumas novas impressões que tive.


"awww estou emocionado que você tenha gostado do álbum! lembro de você em várias músicas. a voz dela é doce, num jeito bem kate bush, e as letras são tão bonitas e realmente comunicam algo, de uma forma bem consciente - a la robyn.
recentemente notei como o álbum vai de canções pop dançantes e extrovertidas, com letras mais genéricas sobre o dancefloor, amor e relacionamentos... como a trilogia de abertura (estou apaixonado por "yo-yo"). e, conforme os temas se aprofundam na mente dela, a música se torna mais experimental e até mesmo estranha em alguns momentos. as faixas do metronomy são perfeitos exemplos, tanto que são completamente diferentes do resto do álbum.
em "i" ela enlouquece sobre as coisas que a irritam, põem medo e são odiosas para ela, e a música soa estrangeira, meio alien. enquanto isso, "fish out of water" é tão melancólica! é minha favorita do momento, especialmente porque a produção do metronomy é toda solitária e fresca [como brisa], meio como o álbum deles "the english riviera" (na minha opinião, alguns críticos dizem que é mais "nights out"... tenho que analisar melhor depois). a letra da última é sobre seguir a carreira solo, reforçando seu amor e dedicação à música. uma liiiiiiinda canção de amor!
ps: ouça melhor "porcelain heart" também. é tããããão sophie ellis-bextor de um jeito maravilhoso!!"

domingo, 16 de outubro de 2011

Dance To The Beat Of My Drum!

Os Álbuns de 2011
Cinderella's Eyes
Nicola Roberts

Em alguns casos é simples e perfeito amor à primeira audição. Os anos se passam e você já tem um padrão do tipo de música que vai te captar e arrebatar nas primeiras BPMs. Me dê uma produção infecciosa, com vocais psicodelicamente editados num refrão de se agarrar e amar, e batidas de putinha on the dancefloor e você me têm dominado.

No caso de Nicola Roberts foi uma adorável surpresa. Sou fã da girl band britânica Girls Aloud e o hiato do grupo frustrou quando os esforços solo de Cheryl Cole [a primeira delas a se aventurar sozinha] se tornaram razoáveis, mas irrisórios comparados à produção requintada e excitante do Xenomania para os álbuns de sua banda de origem. Já com Roberts, a mesa virou.

Cinderella's Eyes [Polydor, 2011] pode ser pensado como aquele prato que há em qualquer restaurante, só que logo na primeira mordida você se surpreende com o sabor e temperos escolhidos. O título é um cliché de revirar os olhos, mas as pegadinhas se tornam interessantes já na arte da capa. De todas as Aloud, Roberts é [para mim] a mais interessante: seu rosto é definitivamente estranho e ela está longe de ser a glamazona [glamour + amazona] que são suas companheiras de grupo. Se comparada aos padrões atuais, ela pode ser chamada de feia [e foi, como se pode saber pela última faixa, Sticks + Stones, balada de sinceridade forte]. Contudo, o imprevisto do álbum já pode ser notado na foto da capa, onde vemos uma Nicola toda vestida, de olhar perdido, sentada num trono em meio a quinquilharias. E essa aparente bagunça é o principal ponto positivo de um álbum Pop cinco estrelas.

Produzido, em sua maioria, pelo francês Dimitri Tikovoi [Madonna, contrate esse cara já!], Cinderella's Eyes começa com a fantástica Beat Of My Drum [BOMD] - co-produzida pelo atual queridinho das divas Pop "junkies por batidas", o DJ e produtor americano Diplo. Conhecido por sua produção rica em elementos que vão do dancehall e hip hop ao funk carioca, Diplo foi responsável por eternos hits de M.I.A. [Bucky Done Gun e Galang] e, mais recentemente, Who Run The World (Girls), da workaholic irritantemente onipresente Beyoncé. E é com esta música que gosto de comparar BOMD.



Ambas são compostas por batidões de banda marcial e vocais super alterados em autotune, editados e recortados. Ambas contém os habituais refrões grudentos e são, inevitavelmente, parecidas. O que faz de "Beat Of My Drum" uma faixa superior a "Who Run The World"? Nicola! Enquanto a faixa de Beyoncé é produzida, editada e mixada para fazer a diva aparecer - com suas letras entediantes de girl power sobradas da época do Destiny's Child -, "Beat Of My Drum" é estrelar porque não tenta fazer de Nicola Roberts uma diva da pista. Em BOMD quem brilha é a própria canção, não o Alexander McQueen da cantora [Beyoncé], sendo uma faixa de ótimo conteúdo musical - reparem nos sintetizadores frenéticos que perpassam toda a canção.

Com um poderoso primeiro single como este, é delicioso constatar que o álbum é um primor, não apenas em produção, como também na apresentação de Nicola. A mais tímida das Aloud se mostra aqui como uma artista inventiva, inteligente e que realmente tem algo interessante a dizer em suas canções. As letras autobiográficas de todo o álbum transpassam as canções de amor insípidas dos dois álbuns solo de Cheryl Cole, os manifestos feministas rasos e prolixos de Beyoncé, Rihanna e etc, exalando senso de humor e honestidade, tais quais a de inteligentes artistas escandinavas como Robyn e Annie.

Lucky Day [produzida pelo adorado grupo hipster Dragonette] relembra em tese os adoráveis standards Pop dos anos 1950, só que transformados por revigorantes sintetizadores - do tipo de botar sorrisos em sua cara enquanto você caminha ou dirige pela cidade. A balada Yo-Yo [Tikovoi] é poderosa e emocionante, onde o doce vocal agudo de Roberts eleva a letra ao status épico que uma digna canção de amor deve se inserir.



Os pontos altos do disco são as faixas produzidas pelo genial grupo britânico Metronomy. Fish Out Of Water e I carregam a produção experimental, harmônica e bonita características irrefutáveis do Metronomy, associada aos excelentes versos de Nicola. Em I ela discorre sobre os medos humanos que a dominam e contra os quais luta, num cativante tom melancólico e timbre a la Kate Bush de tirar o fôlego.

Com isso tudo, Nicola Roberts e seus parceiros fizeram de Cinderella's Eyes um espaço não designado para o show da artista, apenas porque ela é a estrela e contratante do projeto. O que faz do álbum uma obra prima da música Pop em 2011 é o bem sucedido trabalho dos produtores, livres para criarem boas músicas e não simplesmente hits, em conjunto com os insights pessoais fora do comum e desempenho de Nicola Roberts.

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Ficha Técnica Cinderella's Eyes: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- When The Sun Goes Down
- Intro

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

I-I Love You Like A Love Song Baby

Os Álbuns de 2011

When The Sun Goes Down
Selena Gomez & The Scene

Aqui vai um pouco da minha história com Selena Gomez: minha irmã é apenas dois anos mais nova que eu. Mesmo assim, basicamente tudo que ela assiste na TV a cabo é Disney Channel. Eis que após anos ignorando e rejeitando as escolhas televisivas da garota, um dia eu me pego assistindo, rindo e realmente gostando de besteirois infanto-juvenis como Hannah Montana e Os Feiticeiros de Waverly Place. Eu sei, mico! Mas pra quem já relaxou e assume gostar até hoje de Chaves, qual o problema de comédias bobocas da Disney?

Mas enquanto os momentos de ócio eram propícios para televisão vazia, nada justificaria se eu passasse a acompanhar as carreiras desses produtos pop-teens. A adolescência se foi e continua desprezível, portanto, gastar meu tempo ouvindo Miley Cirus et al soaria, talvez, como um belo complexo de Peter Pan. Não que eu ache que minha irmã, por gostar desse tipo de entretenimento, seja complexada... okay, estou enrolando.

Um dia estou bela e loira assistindo MTV na casa de uma amiga e, de repente, Selena Gomez é apresentada por uma japonesa enjoada num karaoke-bar. Olhos se reviram, nariz é torcido, mas isso começa:



Essa música ficou em re-pe-pe-peat na cabeça por mais de uma semana, até eu me render e baixar logo a discografia de Selena Gomez & The Scene.

Whiplash-Whiplash-Whiplaaaaaaaaaash!

Quem é fã de música Pop aprende a reconhecer e curtir produtores, independente de quem tenha gravado suas músicas. Essa era minha explicação quando me perguntavam incrédulos "por que você está ouvindo Selana Gomez?!?!?!?!?!?!?!?!" O que não deixava de ser uma verdade, foi se tornando uma desculpa cada vez que me via selecionando este álbum para acordar, desjejum, banho, dirigir até a faculdade, malhar, parafrasear no Facebook... era como uma droga que você usa e tem vergonha de admitir, um guilty-pleasure.

Até que você assume e confronta seu vício, e vê que não há nada demais em gostar disso pois, na verdade, há muita coisa boa relacionada a ele. Veja bem, terceiro álbum da banda da ex-estrelinha da Disney, When The Sun Goes Down [Universal Music, 2011] contém produções e colaborações assinadas por alguns dos atos mais aclamados, como Rock Mafia, Billy Steinberg [MAOOEE ele escreveu Like A Virgin e True Colos e Eternal Flame, de The Bangles!], Greg KurstinNicole Morier, Britney Spears e Katy Perry.

Enquanto no álbum anterior [o também ótimo, A Year Without Rain, 2010] Gomez parecia tentar se apresentar como alguém que jovens adultos poderiam consumir, em Sun ela se firma simplesmente como uma excelente interprete de canções divertidas e de produção refinada, com poucas variações de clima e qualidade, sendo um álbum coeso, apesar da extensa variedade de produtores.

A primeira faixa, Love You Like A Love Song, é um delicioso tour-de-force contendo todos os elementos de uma fantástica balada midtempo. A letra doce e o refrão simples, mas envolvente, grudam e permanecem até você não mais resistir. Contudo, o brilhantismo da faixa deve à interpretação de Selena que canta suave, quase como um sussurro apaixonado, como uma canção de amor.

As músicas seguintes também são demonstrações da versatilidade interpretativa de Gomez que vai de espirituosa e sarcástica na faixa seguinte, Bang Bang Bang, a dancefloor diva em Hit The Lights e garota perdida na épica Outlaw. Reafirma sua intenção em se divertir na faixa-título e, mesmo quando escorrega em facilidades Pop, como em That's More Like It [co-assinada por Perry] e Middle Of Nowhere, Selena Gomez mantém um carisma natural por todo o álbum, até quando empenha um sotaque britânico na genial Whiplash [composta por Krustin, Morier e Spears].

Apesar de Selena Gomez & The Scene ainda não possuir uma marca própria em sua música, When The Sun Goes Down é álbum que, no final das contas, não deve nada a grandes produções e serve para quem gosta de boa música Pop. E se o passado Disney de sua líder é um percalço, lembremos que alguns dos atos mais proeminentes do Pop saíram de lá: Justin Timberlake, Christina Aguilera e, óbvio, Britney.

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Ficha Técnica de When The Sun Goes Down: Wikipedia
Álbuns do 2011:
- Intro

Os Álbuns de 2011 - Intro

[pop pantheon]
Listas Listas Listas

O ano já está demorando demais para acabar e eu já estou entediado o suficiente. Eis que de repente me lembro do Loubi [sim, este próprio blog] e decido voltar a escrever. Como a vida anda chatonna demais para falar sobre ela sem que eu mesmo queira cortar os pulsos, vamos falar sobre o que é mais fácil e gostoso: música.

Todo ano eu faço a lista das canções que fizeram meu ano. No meu processo obsessivo, faço doze pré-listas mensais com as músicas favoritas até chegar meados de dezembro, quando contabilizo as que mais apareceram e o top [geralmente] 20 está pronto e publicado.

Contudo, havia um impasse nessas listas: sou uma pessoa de álbuns. Estou sempre escutando música, mas nunca apenas canções. Quando um artista que gosto lança um single, espero o álbum vazar/sair para que ele figure no meu MP3 player; isso porque gosto de produtos. Para mim um álbum é um conceito, uma obra na qual a canção está inserida e, mesmo que nem sempre o conjunto seja tão bom quanto a parte, gosto de sorvê-la, degustá-la e analisá-la em seu contexto original.

Então, decidi comentar meus álbuns favoritos de 2011 que, assim como na lista de canções, não necessariamente foram lançados neste ano.

Listas anteriores:
2009 - The Bubbling-Under, Parte 2, Top 3
2008
2007
2006
2005
Kylie Minogue Week
Cigarrettes And Dancefloors Soundtrack


Os Álbuns de 2011

Um ano muuuuito bom para música Pop, álbuns maravilhosos viram a luz do mainstream este ano, como Femme Fatale [Britney Spears] e Born This Way [Lady Gaga]. Claro que não estive antenado em todos os lançamentos mundiais do ano, pois geralmente estou mais focado naquilo que gosto. Em vista disso, este ano me concentrei em discografias de artistas adorados, caracterizando o anacronismo desta lista -  por exemplo, Exodus, álbum de 1977 de Bob Marley figurará aqui.

Ao mesmo tempo, houveram [na minha opinião] muitas decepções industriais, como 4 [Beyoncé] e Love? [Jennifer Lopez], e de repente estava focado [leia-se viciado] em novos ou velhos artistas indies como Battles e Com Truise e outros tão fora dos charts que nem álbum lançado têm ainda, como Florrie e a recém descoberta Lana Del Rey.

Em geral, esses álbuns refletem meu gosto eclético e inclusivo por música. Quem me conhece terá algumas surpresas [yes, Justin Bieber], assim como daqui para o fim do ano podem haver inclusões*, ou seja, sintam-se livres para me recomendarem álbuns.


*Apesar de achar que ela deveria tirar umas longas férias, Rihanna lança Talk That Talk em novembro. O primeiro single We Found Love é assinado por meu amado-idolatrado-salvessalve Calvin Harris... plus, Rihanna raramente me decepciona desde Umbrella.