sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Social Media Hipster Divas - Parte 2

Os Álbuns de 2011
Introduction/Experiments
Florrie

Continuando minha apreciação pela ilusão de proximidade na internet, há Florence Arnold, ou simplesmente Florrie. Linda, loira e de pernas longilíneas de supermodel, esta britânica me apareceu pelo guia essencial de música Pop, o site Popjustice. Ex-baterista da casa de produtores Xenomania [responsável pela discografia do Girls Aloud e o melhor hit de Cher: Believe], Florrie encerrou suas atividades no grupo para focar em sua carreira musical como um ato solo.

Multi-instrumentalista [além de bateria, ela toca violão/guitarra e ukelele], em seu site oficial Florrie explica seu projeto sintonizado com o novo modelo de mercado musical na internet. Basicamente, ao invés de procurar um contrato com gravadora, Florrie decidiu produzir música independentemente, postando em seu site as canções e remixes conforme ficavam prontos e se apresentando em live gigs.

Porém, tudo começou a se desenvolver em junho de 2010 quando fora escolhida como o rosto do perfume Nina L'Elixir, da marca Nina Ricci. Seu cover de Sunday Girl [Blondie] foi tema do comercial de TV e, a partir daí, as portas se abriram pra ela - principalmente no circuito da moda -, tendo feito trabalhos de modelo para outras marcas, como Dolce & Gabbana.



Em novembro do ano passado ela lançou seu primeiro EP, Introduction, contendo quatro faixas: a excitante, meio Pop Rock, Call Of The Wild, as pop standards Give Me Your Love e Summer Nights, e a absolutamente romântica Left Too Late. Posteriormente, em abril deste ano, ela lança via iTunes o segundo EP Experiments, uma evolução sonora comparada com o primeiro.

Na altura do lançamento deste, Florrie declarou que ainda vem experimentando sons [por isso o nome] para, enfim, encontrar uma identidade ideal para sua música. "Experiments" tem um som mais sofisticado e contemplativo que as canções lançadas até então. Abrindo num ritmo acelerado com Speed Of Light, a coisa toma um rumo mais glamouroso com Experimenting With Rugs, uma balada que traz à mente o charme inerente de cantoras francesas, como Françoise Hardy.



Na seguinte, What You Doing This For, ela murmura num infalivelmente romântico falsete sobre o fim do romance numa relação. Em Begging Me e She Always Gets What She Wants, mostra certa ironia, tratando garotos como irremediáveis bobos quando apaixonados.



Entre um pocket show e participações em algum festival ou outro, no último verão europeu, Florrie está sempre de volta ao estúdio para composição de mais músicas, com um EP a ser lançado até o fim do ano. Tudo acompanhável pelo seu site, Twitter e Facebook, onde ela interage efetivamente com sua crescente base de fãs. Essa acessibilidade em dias de hoje é mais que necessária para novos artistas, e tem dado a ela espaço cada vez maior para um LP. Enquanto não acontece, é bom acompanhar sua trajetória pela web.

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Info de Florrie: Florrie.com
Álbuns de 2011:

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Social Media Hipster Divas - Parte 1

Se há alguns anos eu ficava maravilhado com a possibilidade infinita de se descobrir artistas na world-wide-web, as coisas ficaram mais brilhantes com as redes sociais, pois não existe nada mais excitante para um aficionado por música do que ter contato direto com seu artista favorito. Facebook te proporciona isso em certo nível e, mesmo que não se admita, notar que seu ídolo está a 140 caracteres de distância, como no Twitter, é bem divertido.

E mesmo que, em muitos casos, seja óbvio que quem está por trás de todas aquelas maravilhosas postagens são assistentes pessoais e assessores de comunicação [ou se preferir o novo termo, assessor de mídia social], para um fã, a vaga ideia de proximidade virtual é suficiente para incendiar tudo nas nossas pobres cabecinhas fanáticas. Eu, particularmente, tenho meu grupo favorito de cantoras pop que mantenho relacionamentos de amizade profunda e divertida na mente, tudo a partir da troca de um tweet ou outro. Já me imaginei milhares de vezes indo a Berlim e tweetanto Annie Strand para me levar aos cool bars e alt clubs.

Claro que erros gramáticias tweetados por seus artistas favoritos podem doer na raiz do dente, mas a cada pedaço de letra, twitcam ou instagram postado, você se sente ainda mais próximo e satisfeito em gostar da música daquela pessoa tão legal!

Pelo menos no maravilhoso mundo da internet.

Os Álbuns de 2011
Lana Del Rey

Eis que um dia estava fuçando o perfil no Facebitch de um membro de minha banda francesa favorita, Yelle, e há uma postagem de seu novo vício:



Lana Del Rey tem causado um certo alvoroço na mídia blogueira, especialmente nos Estados Unidos. Acusada por sectários indie-hipsters de ser um produto de fabricação industrial vendido como genuinamente alternativo, Del Rey tem galgado seu espaço como a nova sensação dos cools e descolados. Apesar de filha de algum ricaço da web [o que te abre muitas portas e janelas, fato], Elizabeth Grant se lançou primariamente  postando colagens de vídeos caseiros antigos para suas músicas. Foram duas ou três faixas, até que o site Pitchfork Media tenha nomeado Video Games como a "Melhor Faixa Nova" e, daí, Del Rey se espalha pelo mundo.



Controvérsias sobre sua origem profissional aparte, Lana Del Rey tem sim apelo e qualidade musical. Novaiorquina, dona de uma voz menos poderosa do que seu timbre rasgado sugere, ela é uma mistura de diva Soul/Blues com um som melancólico e metálico... pense na qualidade agridoce da equação "dia cinzento + edredom x vinho e chocolate".

E se o debate sobre os truques publicitários de sua imagem [glamazona com boa voz e áurea alternativa] te põe em dúvidas sobre a genuinidade de suas canções, a coisa fica mais irônica quando dentre suas influências artísticas, postadas em seu Facetruq, constam de Nirvana, Elvis e Antony & The Johnsons a - aham - Britney Spears [!!].

Recentemente assinada pela Interscope Records [Lady Gaga], ela ainda está para lançar um álbum oficial. Contudo, a divina e maravilhosa Internet tem espalhadas por sua teia as faixas lançadas por Del Rey de forma independente, além de um álbum inteiro produzido pelo new wave David Khane [Paul McCartney, Stevie Nicks e Regina Spektor]. Este foi jogado pra escanteio por razões desconhecidas, mas é um bom desfile do quanto a performance dela tem as pitadas exatas de melancolia e sensualidade.

Lana Del Rey, enfim, pode ser um bom exemplo do esnobismo indie, pronto para execrar qualquer artista que botem em questão seu fantástico mundo outsider. Mas, sua música de características cinematográficas supera expectativas e é, essencialmente, linda!

Baixem Blue Jeans e Video Games, por seus halos épicos, Kill Kill, pela humanidade em não querer ver o homem que ama morrer, e Yayo, por simplesmente ser a faixa dramática que todos merecemos de tempos em tempos.

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Info de Lana Del Rey: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- Wounded Rhymes
- Cannibal
- Cinderella's Eyes
- When The Sun Goes Down
- Intro

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Lições de Blair Waldorf #2: De Rainha a Princesa

Para quem não acompanha "a melhor série dos nossos temos", Gossip Girl, vale dizer que há uma coisa maravilhosa e perfeita chamada Blair Waldorf. Rainha do Upper East Side, Blair vive o dilema da pós-adolescente moderna: escolher entre a independência inerente à mulher do século XXI e as imposições e regras milenares de um conto de fadas.

Deixando os detalhes da trama de lado, repare nos quatro stills abaixo o trabalho associado de uma fotografia bela e eficiente e uma estrela, linda e ótima atriz como Leighton Meester, em contar a história de uma rainha prestes a deixar seu reino para se tornar princesa de outro.

Blair Waldorf e seu reino atrás

A decisão

Etérea e soberana


terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Bênção da Tristeza

Apesar de geralmente gostar, eu tenho um problema com todo esse movimento Indie da música Pop. Desde que compreendi que Indie é um termo mais abrangente que apenas corruptela da palavra independent, percebi que a questão da música indie não é a música, nem os artistas que a fazem, e sim a prepotência daqueles que a ouvem e "consomem". Hipsters metidos a fora do establishment industrial do Pop, o que muitos fãs de música independente não percebem é que a própria indústria abocanhou absorveu esse segmento, sendo que hoje é bem complicado designar determinada música ou artista como independente.

Ainda assim, o termo existe e é hoje usado para qualificar um estilo, não a condição de outsider do artista. Muitos podem ser chamados de independentes pelo estilo de música que fazem [fora dos padrões mercadológicos do momento], mas a partir do instante que têm suas músicas vendidas no iTunes já não estão fora do balaio industrial.

Explicada a minha relação com a música Indie, pulemos para o que interessa.

Os Álbuns de 2011
Wounded Rhymes
Lykke Li

Em atividade desde 2007, a sueca Lykke Li provem de uma onda européia que dominou a cena independente do Pop entre 2007 e 2008. Seu debute, Youth Novels [LL, 2008] foi um festival de arranjos minimalistas que impressionou a maioria dos críticos ao redor do mundo; eu, me senti bem entediado - talvez eu devesse ter fumado mais maconha pra escutá-lo na época.

Mas seu segundo álbum, Wounded Rhymes¹ [LL, 2011] mostrou um progresso imenso em musicalidade, pois, enquanto as canções de "Novels" parecem fadadas à apreciação indie, em "Rhymes" a produção é mais arrojada, carregada num ritmo metálico, com uma Li mais rock 'n' roll e exposta, tanto no teor das letras quanto no poder vocal - que deixa a melosidade aguda do primeiro álbum, vestindo uma persona mais obscura e ardente.

O tema central do álbum, como já sugerido pelo título, é uma catarse da mágoa e da tristeza e decepção em diversos níveis. Deprimente? Sim, mas a música composta por Li e seus parceiros - Björn Yttling (produtor deste e de "Novels") e Rick Nowels (Madonna, Dido, Nelly Furtado) - estão longe da timidez do álbum anterior.

A canção de abertura, Youth Knows No Pain, é um chamado poderoso de celebração da juventude, cheia de frescor e comportamento autodestrutivo. Quando Li entoa o eloquente refrão,


So come on honey blow yourself to pieces
Come on honey give yourself completely
And do it all although you can't believe it
Youth knows no pain
Youth knows no pain
²

se reconhece a condição agridoce do jovem, que precisa se entregar, jogar e repartir em pedaços para compreender a evolução da vida. No primeiro single, I Follow Rivers, Li busca a profundidade romântica através de metáforas aquáticas e na seguinte, Love Out Of Lust, deseja a sentimentalidade da luxúria - etérea e melancólica.

Tal melancolia, presente em todo o álbum, tem seu ápice estético em Unrequited Love. O fabuloso lamento, que lembra os melhores momentos de The Reminder [Polydor, 2007] de Feist, inicia com Li em palmas e acapella declarando as dores do amor intensificadas pela não correspondência. O mais bonito da faixa, além da bela performance da cantora, são a única guitarra e o coral em eco que a acompanham, desenhando o senso de solitude da canção.

O álbum atinge seu clímax em Sadness Is A Blessing [de onde foi tirado o título do álbum], onde Lykke Li abraça a dor e a tristeza como seu único e verdadeiro companheiro e namorado. Outro lamento, "Sadness" tem um arranjo envolvente como um repentino ataque daquela tristeza que só é exorcizada se permitida a ser.
Demonstrando uma evolução notável de sua estréia, em "Wounded Rhymes" Lykke Li vem mais poderosa e confiante. Forte e eloquente, o disco é um exemplo maravilhoso de como um álbum pop pode ser um profundo estudo temático, tanto em musicalidade quanto em versos. E, aniquilando minha intriga, reconheço que muitas vezes isso só é possível quando não se tem as pressões mercadológicas sobre os ombros da criatividade. E, com esta obra, Lykke Li demonstra que a música indie pode ser espaço para a profundidade criativa, intelectual e não apenas pose.

¹Literalmente: "rimas feridas"
²Literalmente: "Então querido se exploda em pedaços/Venha e se entregue por completo/E faça tudo isso mesmo que não acredite por completo:/[Que] A juventude não conhece a dor"

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Ficha Técnica Wounded Rhymes: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- Cannibal
- Cinderella's Eyes
- When The Sun Goes Down
- Intro

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Epítome do Trash

Os Álbuns de 2011
Cannibal
Ke$ha

Depois de anos exposto e curtindo música Pop se aprende que, mesmo não gostando de determinado artista, você em algum ponto vai gostar de uma música ou álbum dele.

Ke$ha para mim sempre foi um desses produtos da nova geração simplesmente ignorável. A voz totalmente distorcida nunca foi um problema per se, o negócio eram as canções nada inovadoras em termos musicais, sobre ficar bêbado e fazer merda, superestimadas por adolescentes que mal tinham vivido um terço daquilo esganiçado por ela. Além do mais, o cabelo seboso e a cara de fedida sempre me deram nos nervos. Em suma, Ke$ha sempre fora a epítome do trash: Tre$ha!

E ainda é, só que de repente [mas não surpreendentemente], seu EP Cannibal [RCA, 2010], lançado como parte da edição deluxe de seu debute [Animal, RCA 2010], se instalou em meus ouvidos e mente exatamente por assumir e desenvolver aquilo que sempre considerei de Ke$ha: um ser tão trash e descarado. Mas que, mordendo minha bunda, pode ser até bom!

Em "Cannibal", ela descreve melhor sua persona maltrapilha e vulgar. Isso acontece, mais específica e diretamente, na fantástica Sleazy, daquelas faixas infecciosas que não é espantoso que você se pegue gostando dela de graça. Declarando não precisar de nenhum tipo de simpatia ou aprovação, ela se diverte como um pária social, de modos ruins e boca suja. E o que faz disso engraçado e até excitante é justamente a atitude nemli e despreocupada com a qual ela recita os versos, sobrepostos numa batida difícil de ignorar, se batidas são sua praia.

Enquanto os temas são os mesmos de sempre, o senso de humor dela é inegável e capaz de anestesiar sua consciência, restando apenas o delicioso instinto de se jogar na diversão. Possível hino da geração dos prazeres frívolos, We R Who We R soa nada mais nada menos como um hino, só que sem pretensão nem esforço em sê-lo. E, confesso, é bastante complicado resistir a chamados de simples e puro recreio, como acontece novamente em Blow, a melhor faixa por construir um momentum nos versos que magnificamente explode no refrão, como sugere o título. É daquelas canções em que, quando na boite, se para de fazer tudo [comprar álcool, fila do banheiro, amassos com o gostosão] pra se jogar na pista.

Quando revela mais de si mesma, ela não deixa de lado o sarcasmo, nem mesmo a autodepreciação. A faixa-título abre tudo como um chamado selvagem e sedutor, mesmo com ela declarando que vai comer seu cérebro no final de tudo [viu, nojenta!], e em Grow A Pear ela escracha um namorado que se comporta como uma mulher na TPM, numa atitude FUCK OFF capaz de te chocar ou [se você é do tipo que curte de vez em quando a vilania humana, como eu] regozijar: "you should know that I love you a lot, BUT I JUST CAN'T DATE A DUDE WITH A VAGG!"*

No fim das contas, enquanto podemos continuar torcendo nossos narizes finos e sofisticados para Ke$ha, ela  segue sendo o monstro viscoso e fedido que se propõe a ser, sem em momento algum hesitar em jogar sua gosma em nossas caras. E isso é, na minha opinião, uma atitude memorável pelo simples prazer na eventual sordidez.

Mas, se nada disso ainda te convence, tente escutar "Cannibal" em cima de uma esteira ou elíptico. Duvido que resista!

*literalmente: "você deve saber que eu te amo bastante, mas não posso simplesmente namorar um cara com uma xana!"

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Ficha Técnica Cannibal: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- Cinderella's Eyes
- When The Sun Goes Down
- Intro

Querido Jose

Sempre que me empolgo musicalmente, desejo discutir sobre isso com meu bom amigo-online de anos, Jose. Ele é hondurenho e atualmente mora na Costa Rica, onde se formou em Cinema e trabalha numa agência de viagens. Ele tem um ótimo blog, o Movies Kick Ass, no qual posta ótimas críticas cinematográficas.

Numa conversa de minutos atrás pelo Facebitch conversamos sobre o maravilhoso álbum solo de Nicola Roberts, um dos meus favoritos do ano, como relatei na postagem anterior. Na verdade verdadeira, fiz um breve monólogo sobre algumas novas impressões que tive.


"awww estou emocionado que você tenha gostado do álbum! lembro de você em várias músicas. a voz dela é doce, num jeito bem kate bush, e as letras são tão bonitas e realmente comunicam algo, de uma forma bem consciente - a la robyn.
recentemente notei como o álbum vai de canções pop dançantes e extrovertidas, com letras mais genéricas sobre o dancefloor, amor e relacionamentos... como a trilogia de abertura (estou apaixonado por "yo-yo"). e, conforme os temas se aprofundam na mente dela, a música se torna mais experimental e até mesmo estranha em alguns momentos. as faixas do metronomy são perfeitos exemplos, tanto que são completamente diferentes do resto do álbum.
em "i" ela enlouquece sobre as coisas que a irritam, põem medo e são odiosas para ela, e a música soa estrangeira, meio alien. enquanto isso, "fish out of water" é tão melancólica! é minha favorita do momento, especialmente porque a produção do metronomy é toda solitária e fresca [como brisa], meio como o álbum deles "the english riviera" (na minha opinião, alguns críticos dizem que é mais "nights out"... tenho que analisar melhor depois). a letra da última é sobre seguir a carreira solo, reforçando seu amor e dedicação à música. uma liiiiiiinda canção de amor!
ps: ouça melhor "porcelain heart" também. é tããããão sophie ellis-bextor de um jeito maravilhoso!!"

domingo, 16 de outubro de 2011

Dance To The Beat Of My Drum!

Os Álbuns de 2011
Cinderella's Eyes
Nicola Roberts

Em alguns casos é simples e perfeito amor à primeira audição. Os anos se passam e você já tem um padrão do tipo de música que vai te captar e arrebatar nas primeiras BPMs. Me dê uma produção infecciosa, com vocais psicodelicamente editados num refrão de se agarrar e amar, e batidas de putinha on the dancefloor e você me têm dominado.

No caso de Nicola Roberts foi uma adorável surpresa. Sou fã da girl band britânica Girls Aloud e o hiato do grupo frustrou quando os esforços solo de Cheryl Cole [a primeira delas a se aventurar sozinha] se tornaram razoáveis, mas irrisórios comparados à produção requintada e excitante do Xenomania para os álbuns de sua banda de origem. Já com Roberts, a mesa virou.

Cinderella's Eyes [Polydor, 2011] pode ser pensado como aquele prato que há em qualquer restaurante, só que logo na primeira mordida você se surpreende com o sabor e temperos escolhidos. O título é um cliché de revirar os olhos, mas as pegadinhas se tornam interessantes já na arte da capa. De todas as Aloud, Roberts é [para mim] a mais interessante: seu rosto é definitivamente estranho e ela está longe de ser a glamazona [glamour + amazona] que são suas companheiras de grupo. Se comparada aos padrões atuais, ela pode ser chamada de feia [e foi, como se pode saber pela última faixa, Sticks + Stones, balada de sinceridade forte]. Contudo, o imprevisto do álbum já pode ser notado na foto da capa, onde vemos uma Nicola toda vestida, de olhar perdido, sentada num trono em meio a quinquilharias. E essa aparente bagunça é o principal ponto positivo de um álbum Pop cinco estrelas.

Produzido, em sua maioria, pelo francês Dimitri Tikovoi [Madonna, contrate esse cara já!], Cinderella's Eyes começa com a fantástica Beat Of My Drum [BOMD] - co-produzida pelo atual queridinho das divas Pop "junkies por batidas", o DJ e produtor americano Diplo. Conhecido por sua produção rica em elementos que vão do dancehall e hip hop ao funk carioca, Diplo foi responsável por eternos hits de M.I.A. [Bucky Done Gun e Galang] e, mais recentemente, Who Run The World (Girls), da workaholic irritantemente onipresente Beyoncé. E é com esta música que gosto de comparar BOMD.



Ambas são compostas por batidões de banda marcial e vocais super alterados em autotune, editados e recortados. Ambas contém os habituais refrões grudentos e são, inevitavelmente, parecidas. O que faz de "Beat Of My Drum" uma faixa superior a "Who Run The World"? Nicola! Enquanto a faixa de Beyoncé é produzida, editada e mixada para fazer a diva aparecer - com suas letras entediantes de girl power sobradas da época do Destiny's Child -, "Beat Of My Drum" é estrelar porque não tenta fazer de Nicola Roberts uma diva da pista. Em BOMD quem brilha é a própria canção, não o Alexander McQueen da cantora [Beyoncé], sendo uma faixa de ótimo conteúdo musical - reparem nos sintetizadores frenéticos que perpassam toda a canção.

Com um poderoso primeiro single como este, é delicioso constatar que o álbum é um primor, não apenas em produção, como também na apresentação de Nicola. A mais tímida das Aloud se mostra aqui como uma artista inventiva, inteligente e que realmente tem algo interessante a dizer em suas canções. As letras autobiográficas de todo o álbum transpassam as canções de amor insípidas dos dois álbuns solo de Cheryl Cole, os manifestos feministas rasos e prolixos de Beyoncé, Rihanna e etc, exalando senso de humor e honestidade, tais quais a de inteligentes artistas escandinavas como Robyn e Annie.

Lucky Day [produzida pelo adorado grupo hipster Dragonette] relembra em tese os adoráveis standards Pop dos anos 1950, só que transformados por revigorantes sintetizadores - do tipo de botar sorrisos em sua cara enquanto você caminha ou dirige pela cidade. A balada Yo-Yo [Tikovoi] é poderosa e emocionante, onde o doce vocal agudo de Roberts eleva a letra ao status épico que uma digna canção de amor deve se inserir.



Os pontos altos do disco são as faixas produzidas pelo genial grupo britânico Metronomy. Fish Out Of Water e I carregam a produção experimental, harmônica e bonita características irrefutáveis do Metronomy, associada aos excelentes versos de Nicola. Em I ela discorre sobre os medos humanos que a dominam e contra os quais luta, num cativante tom melancólico e timbre a la Kate Bush de tirar o fôlego.

Com isso tudo, Nicola Roberts e seus parceiros fizeram de Cinderella's Eyes um espaço não designado para o show da artista, apenas porque ela é a estrela e contratante do projeto. O que faz do álbum uma obra prima da música Pop em 2011 é o bem sucedido trabalho dos produtores, livres para criarem boas músicas e não simplesmente hits, em conjunto com os insights pessoais fora do comum e desempenho de Nicola Roberts.

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Ficha Técnica Cinderella's Eyes: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- When The Sun Goes Down
- Intro

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

I-I Love You Like A Love Song Baby

Os Álbuns de 2011

When The Sun Goes Down
Selena Gomez & The Scene

Aqui vai um pouco da minha história com Selena Gomez: minha irmã é apenas dois anos mais nova que eu. Mesmo assim, basicamente tudo que ela assiste na TV a cabo é Disney Channel. Eis que após anos ignorando e rejeitando as escolhas televisivas da garota, um dia eu me pego assistindo, rindo e realmente gostando de besteirois infanto-juvenis como Hannah Montana e Os Feiticeiros de Waverly Place. Eu sei, mico! Mas pra quem já relaxou e assume gostar até hoje de Chaves, qual o problema de comédias bobocas da Disney?

Mas enquanto os momentos de ócio eram propícios para televisão vazia, nada justificaria se eu passasse a acompanhar as carreiras desses produtos pop-teens. A adolescência se foi e continua desprezível, portanto, gastar meu tempo ouvindo Miley Cirus et al soaria, talvez, como um belo complexo de Peter Pan. Não que eu ache que minha irmã, por gostar desse tipo de entretenimento, seja complexada... okay, estou enrolando.

Um dia estou bela e loira assistindo MTV na casa de uma amiga e, de repente, Selena Gomez é apresentada por uma japonesa enjoada num karaoke-bar. Olhos se reviram, nariz é torcido, mas isso começa:



Essa música ficou em re-pe-pe-peat na cabeça por mais de uma semana, até eu me render e baixar logo a discografia de Selena Gomez & The Scene.

Whiplash-Whiplash-Whiplaaaaaaaaaash!

Quem é fã de música Pop aprende a reconhecer e curtir produtores, independente de quem tenha gravado suas músicas. Essa era minha explicação quando me perguntavam incrédulos "por que você está ouvindo Selana Gomez?!?!?!?!?!?!?!?!" O que não deixava de ser uma verdade, foi se tornando uma desculpa cada vez que me via selecionando este álbum para acordar, desjejum, banho, dirigir até a faculdade, malhar, parafrasear no Facebook... era como uma droga que você usa e tem vergonha de admitir, um guilty-pleasure.

Até que você assume e confronta seu vício, e vê que não há nada demais em gostar disso pois, na verdade, há muita coisa boa relacionada a ele. Veja bem, terceiro álbum da banda da ex-estrelinha da Disney, When The Sun Goes Down [Universal Music, 2011] contém produções e colaborações assinadas por alguns dos atos mais aclamados, como Rock Mafia, Billy Steinberg [MAOOEE ele escreveu Like A Virgin e True Colos e Eternal Flame, de The Bangles!], Greg KurstinNicole Morier, Britney Spears e Katy Perry.

Enquanto no álbum anterior [o também ótimo, A Year Without Rain, 2010] Gomez parecia tentar se apresentar como alguém que jovens adultos poderiam consumir, em Sun ela se firma simplesmente como uma excelente interprete de canções divertidas e de produção refinada, com poucas variações de clima e qualidade, sendo um álbum coeso, apesar da extensa variedade de produtores.

A primeira faixa, Love You Like A Love Song, é um delicioso tour-de-force contendo todos os elementos de uma fantástica balada midtempo. A letra doce e o refrão simples, mas envolvente, grudam e permanecem até você não mais resistir. Contudo, o brilhantismo da faixa deve à interpretação de Selena que canta suave, quase como um sussurro apaixonado, como uma canção de amor.

As músicas seguintes também são demonstrações da versatilidade interpretativa de Gomez que vai de espirituosa e sarcástica na faixa seguinte, Bang Bang Bang, a dancefloor diva em Hit The Lights e garota perdida na épica Outlaw. Reafirma sua intenção em se divertir na faixa-título e, mesmo quando escorrega em facilidades Pop, como em That's More Like It [co-assinada por Perry] e Middle Of Nowhere, Selena Gomez mantém um carisma natural por todo o álbum, até quando empenha um sotaque britânico na genial Whiplash [composta por Krustin, Morier e Spears].

Apesar de Selena Gomez & The Scene ainda não possuir uma marca própria em sua música, When The Sun Goes Down é álbum que, no final das contas, não deve nada a grandes produções e serve para quem gosta de boa música Pop. E se o passado Disney de sua líder é um percalço, lembremos que alguns dos atos mais proeminentes do Pop saíram de lá: Justin Timberlake, Christina Aguilera e, óbvio, Britney.

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Ficha Técnica de When The Sun Goes Down: Wikipedia
Álbuns do 2011:
- Intro

Os Álbuns de 2011 - Intro

[pop pantheon]
Listas Listas Listas

O ano já está demorando demais para acabar e eu já estou entediado o suficiente. Eis que de repente me lembro do Loubi [sim, este próprio blog] e decido voltar a escrever. Como a vida anda chatonna demais para falar sobre ela sem que eu mesmo queira cortar os pulsos, vamos falar sobre o que é mais fácil e gostoso: música.

Todo ano eu faço a lista das canções que fizeram meu ano. No meu processo obsessivo, faço doze pré-listas mensais com as músicas favoritas até chegar meados de dezembro, quando contabilizo as que mais apareceram e o top [geralmente] 20 está pronto e publicado.

Contudo, havia um impasse nessas listas: sou uma pessoa de álbuns. Estou sempre escutando música, mas nunca apenas canções. Quando um artista que gosto lança um single, espero o álbum vazar/sair para que ele figure no meu MP3 player; isso porque gosto de produtos. Para mim um álbum é um conceito, uma obra na qual a canção está inserida e, mesmo que nem sempre o conjunto seja tão bom quanto a parte, gosto de sorvê-la, degustá-la e analisá-la em seu contexto original.

Então, decidi comentar meus álbuns favoritos de 2011 que, assim como na lista de canções, não necessariamente foram lançados neste ano.

Listas anteriores:
2009 - The Bubbling-Under, Parte 2, Top 3
2008
2007
2006
2005
Kylie Minogue Week
Cigarrettes And Dancefloors Soundtrack


Os Álbuns de 2011

Um ano muuuuito bom para música Pop, álbuns maravilhosos viram a luz do mainstream este ano, como Femme Fatale [Britney Spears] e Born This Way [Lady Gaga]. Claro que não estive antenado em todos os lançamentos mundiais do ano, pois geralmente estou mais focado naquilo que gosto. Em vista disso, este ano me concentrei em discografias de artistas adorados, caracterizando o anacronismo desta lista -  por exemplo, Exodus, álbum de 1977 de Bob Marley figurará aqui.

Ao mesmo tempo, houveram [na minha opinião] muitas decepções industriais, como 4 [Beyoncé] e Love? [Jennifer Lopez], e de repente estava focado [leia-se viciado] em novos ou velhos artistas indies como Battles e Com Truise e outros tão fora dos charts que nem álbum lançado têm ainda, como Florrie e a recém descoberta Lana Del Rey.

Em geral, esses álbuns refletem meu gosto eclético e inclusivo por música. Quem me conhece terá algumas surpresas [yes, Justin Bieber], assim como daqui para o fim do ano podem haver inclusões*, ou seja, sintam-se livres para me recomendarem álbuns.


*Apesar de achar que ela deveria tirar umas longas férias, Rihanna lança Talk That Talk em novembro. O primeiro single We Found Love é assinado por meu amado-idolatrado-salvessalve Calvin Harris... plus, Rihanna raramente me decepciona desde Umbrella.

sábado, 2 de julho de 2011

Carta Manifesto da Marcha das Vadias

Fonte
O texto abaixo foi compartilhado por Luiz Henrique Coletto e enviado a mim por Coral Fortunato, uma das organizadoras, comigo, da "Marcha das Vadias - Vitória da Conquista". É um texto de esclarecimento e de suma importância para a sociedade atual, especialmente para quem está interessado na formação desse movimento.

Agradecimentos especiais à Lola Aronovich.

Carta Manifesto da Marcha das Vadias de Rio de Janeiro – Por que marchamos?
No Rio de Janeiro, marchamos porque apenas nos primeiros três meses desse ano foram 1.246 casos registrados de mulheres e meninas estupradas, uma média de quatorze mulheres e meninas estupradas por dia, e sabemos que ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos; marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de transporte público do Rio de Janeiro, que nos obriga a andar longas distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para proteger as várias mulheres e meninas que são violentadas ao longo desses caminhos; marchamos porque foi preciso a criação de vagões femininos no trem e no metrô para que não fossemos sexualmente assediadas durante o uso desses transportes.
No Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano, e mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço; marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens; marchamos porque vivemos em uma cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo em “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procurado a violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas; marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos; marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porque hoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual.
No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento; marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual; marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quais elas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazer nada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.
Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadas de vadias porque transamos antes do casamento, já fomos chamadas de vadias por simplesmente dizer “não” a um homem, já fomos chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomos chamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas, já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, por um ou vários homens ao mesmo tempo, já fomos chamadas de vadias quando torturadas e curradas durante a Ditadura Militar. Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir enquanto mulheres. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossa sexualidade e aos nossos corpos. Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e marcharemos até que todas sejamos livres.
Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas, avós, putas, santas, vadias…todas merecemos respeito!

Créditos Marcha das Vadias DF.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amnésia Pós-Bombação

Tenho uma teoria pessoal de que uma festa é muito boa quando, 24h após a sua chegada a ela, você tem a sensação de que ela aconteceu há milhares de anos. Hoje, dois dias depois da quinta edição da Glam, aqui em Vitória da Conquista, tenho a impressão de que tudo aconteceu há milênios atrás.

Quando foi anunciada a mudança da festa para o Clube da Derruba, houve um misto de alívio e escárnio. O último por boa parte de conhecidos meus que, tirando um sarro meio óbvio, compararam a uma outra festa residente do local, a Quinta Sem Lei. Eu, porém, senti um certo alívio, pois nada poderia ser pior que o calor infernal da 4a edição [acontecida na Zupi].

A Glam está crescendo e, no sábado, mostrou estar bem direcionada à maturidade. A produção ainda peca numa falta de identidade visual, mas, em termos musicais, um grande passo foi dado. A começar pela ordem do line-up. Infelizmente não presenciei o residente DJ Rick, nem o battle-set entre Sexy Sushi e Indiecents, cheguei ao meio do set do DJ conquistense Tony e aí se deu a primeira prova do bom desenvolvimento da festa.

Habitués das raves da cidade, os DJs Tony e Trindade sempre vem com sets carregados em experimentalismos saborosos. O problema deles nas edições anteriores era justamente a ordem dos fatores: colocados ao final, suas loucurinhas eletrônicas nem sempre eram bem compreendidas pela pista suada pelo bate-cabelo. No último sábado, contudo, Tony e Trindade brilharam no meio da programação com seus samples psicodélicos de fazer subwoofers estourarem deliciosamente.

Na ausência da estrela da noite, o gaúcho Maurício Bungi [seu voo fora cancelado devido ao vulcão chileno], a produção rapidamente trouxe o carioca Nuno Queiroz para preencher o line-up. Não conheço o trabalho de Bungi, porém Queiroz foi uma feliz substituição. Com uma leitura de pista fantástica, Queiroz tirou o fôlego do público diversas vezes, mantendo o dancefloor sempre em crescente êxtase. No momento em que foi lançada uma versão épica de Born This Way, da Lady Gaga, não havia - pelo menos ao alcance de visão - quem não estivesse em transe. Particularmente, este foi o ponto alto da festa, pois, constatei o poder da faixa de Gaga: sim, ela é um hino!

Posteriormente vieram DJ Chiquinho, de Salvador, com seu set estrambólico misturando Funk carioca [YES VALESKA!] com Axé baiano que, apesar de nem sempre me agradar, certamente possui um identidade interessante e que não deixa barato na pista; e depois - já amanhecendo - DJ Junior Faiatt (Itabuna), com um set mais centrado em Beyoncé - que confesso, não tenho dado conta.

Uma balada se faz pela música. Claro que todos os outros fatores como local, decoração e público contribuem para o resultado, mas é a música o catalisador de tudo isso. Ao fim da festa (literalmente, pois só saí ao final do final), ficou a adorável sensação de uma noite incrível e, no meu caso, um alívio de ter investido numa festa que valeu a pena.

Que venha a próxima!

domingo, 12 de junho de 2011

The Lost Boys

Fonte
Ontem na Glam havia uma quantidade interessante de garotos jovens e bonitos; alguns eram até de tirar o fôlego. Mas a convivência por horas, observando seus comportamentos, mais até que flertando, me fez sentir um pouco deprimido: o que vem acontecendo com essa geração, imediatamente após a minha, que parece que todos esses garotos gays estão mais perdidos do que deveriam? Explicarei.

Quando era era adolescente e pouco depois dessa fase, ser gay ainda não era a modinha que é agora. Ah você pode discordar dessa moda, alegando que homofobia é cada vez maior e clara, mas isso porque, penso eu, quando uma coisa está em grande voga, a rejeição a ela também se apresenta com a mesma força. Terceira lei de Newton, ação versus reação.

Então, se a homofobia é chocantemente explícita hoje é porque a homossexualidade também tem sido da mesma forma. E não é apenas na aceitação da cultura queer ou da ousadia de muitos em dar a cara ao tapa e serem quem eles querem ser; um exemplo é a representação dos estereótipos homossexuais nas novelas que, apesar de irritantes, eu acho ao menos interessante que estejam aparecendo, dando, assim, margem para a discussão.

Daí, se ser gay no colegial ainda é algo difícil, ao menos hoje - pelos exemplos que conheço - parecer gay já não é grande coisa. Digo, ainda há discriminação e violência, verbais e físicas, nas escolas, mas a quantidade de garotos e garotas visualmente gays/lésbicas em idade escolar hoje em dia é, admito, surpreendente pra mim que nem sou tão velho.

Muitos me perguntam como eu consigo ir a festas, dançar, beber e fumar até de manhã e não ficar com um garoto sequer. Eu geralmente respondo que já passei da fase de ter a festa/boate/inferninho gay como lugar para extravazar minha sexualidade. Hoje em dia, eu a expresso sem medo em minha atitude cotidiana, pois, em muitos aspectos, eu transpus a barreira do olhar alheio no entendimento de quem eu sou. Porém, apesar de não estar no meu lugar ideal como pessoa, eu sustento bem aquilo que me proponho a ser e expressar. Por isso, não é importante para mim "sair à caça".

Fonte
Quando vejo tantos garotos pelas ruas, voltando das escolas [públicas, vale ressaltar] com suas calças skinny, cabelos estrambólicos e sensos de estilo essencialmente gays [sendo eles, gays ou não], fico um pouco fascinado por essa aparente abertura. Mas a superfície, apesar de fascinante, é essencialmente enganadora, e não há melhor lugar para observar o quanto ela esconde certas coisas como no habitat natural da comunidade gay: a pista de dança.

Há 5 edições, a Glam tem se firmado como a única opção digna da comunidade gay conquistense e regional. Com uma população essencialmente adolescente/pós-adolescente, as beeshas teens se jogam e a grande maioria é aquilo que nunca seriam no cotidiano com os pais, amigos e etc. A pista de dança se torna um refúgio onde é permitido fazer tudo que se tem vontade, pois - em tese - estamos todos num dia de folga da escravidão das convenções sociais e medos de assumir nossas identidades.

Mas por que, quando eu vejo essas pessoas atiçadas pelos hormônios da juventude, raramente sinto que ali há um comportamento baseado numa aceitação e vivência concreta da sexualidade?

Vou exemplificar. Havia um garoto na festa que era lindo. Podia ter qualquer um, mas ele vinha tendo todos - todos que, em comparação a sua beleza, eram aquém de sua capacidade de conseguir alguma coisa. Evidentemente bêbado, ele, sempre que o via, estava se atracando aos beijos com um cara pior que o outro. E, sempre que ele saia, fazia uma cara de desgosto pelo que acabara de fazer.

Ao olhar ao redor, ele não era o único. Havia um outro que estava com um cara mais velho [e feio] que não parecia muito feliz com sua escolha. Então, estariam eles, motivados pela "obrigação da caça", a se jogarem nas primeiras oportunidades sem nenhum tipo de critério? Ou talvez essa geração está se descobrindo nas relações sexuais sem sustento emocional ou noção das consequências de suas atitudes? Ou, simplesmente, ela se caracteriza pela ausência de critérios?

Quando penso, e comparo comigo mesmo, sinto que devo admitir sem modéstia que sou privilegiado em muitos aspectos. Na Glam, um amigo me disse que eu tinha pais riquíssimos e ele não estava falando de dinheiro. Tive que concordar, pois eu não passei por metade das dificuldades que muitos que conheço passaram ou passam para que a família aprenda a, ao menos, conviver com sua condição.

Minha história de vida, e a de muitos dos meus amigos, ajudou a construir a pessoa que sou hoje e a ter uma melhor pauta na expressão de mim mesmo. Contudo, ao que me parece, a juventude de hoje tem expressado sem pudor sua sexualidade, mas está longe de compreende-la como um todo.

Isso é meio triste.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

La Mudernidade

A vida contemporânea nos traz milhares de vantagens com as quais não saberíamos mais viver sem. Smartphones, wi-fi, Facebook, Twitter... todas essas revoluções da comunicação rapidamente entraram e se fixaram em nossas vidas. Com elas é possível saber de tudo que você precisa para ter um ingrediente importante na busca de todo tipo de conhecimento: informação.

Mas como todo bônus tem seu ônus, junto com toda maravilha vem os entulhos. Hoje em dia, é normal se deparar com uma absurda quantidade de informação irrelevante ou pura e terrivelmente indesejada.

Na minha busca por preencher meus horários-críticos de carência*, me delicio com meu vício por séries, mulheres fabulosas, Nova York... Sex And The City! Em meados da sexta temporada me deparo com um episódio que não necessariamente se encaixa no perfil das informações indesejadas, mas que não estavam em meus planos anestesiantes. Nele, toda a discussão era sobre o número 1: seja o cara da sua vida, o emprego... a única coisa que falta para você ser finalmente feliz.

Lindo episódio! Me emocionei e as porra... dormi... e o tema me perseguiu durante o sono até o momento de acordar e ainda me deparar com ele como primeiro pensamento da manhã: até quando nossas vidas estarão pautadas na busca daquilo que nunca chega? E quando é que nossas distrações modernas saem pela culatra e nos lembram exatamente daquilo que queremos abstrair?

*Momentos em que a vida de solteiro SUCKS.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Same Ol' Same

Ontem, por conta de uma pauta de trabalho, fiz o chaperone de três adolescentes típicas. Combinei com uma amiga que levaria a irmã dela de 14 anos e as amigas para um passeio, assim eu conseguiria as fotos que precisava para minha pauta.

Adolescentes: "stuck in both heaven or hell"
A adolescência é o tempo mais terrível de nossas vidas. Pelo menos é assim que eu a vejo. Na noite anterior, numa barulhenta conversa de sábado, eu e uns amigos relembrávamos a grande quantidade de babaquices que éramos capazes de fazer e dizer na época de adolescente. Em geral, adolescentes são seres bizarros, com corpos em crescimento desproporcional [braços gigantes, cabeça maior que tudo mais] e um senso definitivamente curto de si próprio e do mundo. Podíamos nos achar extremamente superiores ao mundo que não compreendíamos, para detestá-lo logo em seguida porque não conseguíamos exatamente o que esperávamos dele.

É engraçado que, quando adolescentes, nossa noção de que a vida e o mundo são bem maiores do que o momento presente é bem curta; o tempo não existe para além da idade que se conhece [12-18 anos], mas se deseja e anseia por coisas ou ser alguém que não se é agora. É uma contradição constante que me faz pensar que quem vive em eterna e nervosa ligação/desejo por aquilo que não é agora, vive, de algum modo, preso na adolescência. A irmã da minha amiga, por exemplo, reclamou várias vezes dos cabelos e não adiantava falarmos o quanto ele era normal e bonito. Um garoto com quem converso no MSN, um pouco mais velho [16 anos], reclama da solidão constante de sua vida, mas não sai, não aproveita o tempo para conhecer lugares e, talvez, pessoas.

Eu fui assim durante boa parte da minha adolescência e estar em contato com esses garotos, assim como saber das histórias de amigos meus que não foram pubescentes comigo, me faz pensar o quão espiralado é o tempo. É outro tempo, mas ele não é completamente diferente do que vivemos há alguns anos. Aos meus 16 anos eu era tímido, a ponto de não ter um pingo de coragem em fazer/pedir o queria, tinha todo tipo de desgosto por minha aparência física e comportamental, mas, ao mesmo tempo, me mantinha estático e inerte perante a isso. Eu não gostaria de ter esse tempo de volta de jeito nenhum, muitos concordam comigo.

Entretanto, há quem deseje, pois da mesma forma que na minha convivência atual há seres ativos e passivos, na adolescência também havia quem tinha todo o frescor e confiança da juventude e absolutamente nenhum pensamento no que estava por vir. O fato de já não serem mais crianças, levam os teens a pensarem que nada mais está para mudar em suas vidas. Já nós, na casa dos 20, sabemos o quanto mudamos de lá para cá e, muitas vezes, nos pomos desesperados para que as coisas continuem mudando.

A irmã de minha amiga e suas amigas passaram boa parte do tempo reclamando de coisas completamente irrelevantes para a minha idade. Internamente, eu e minha amiga ríamos delas, contudo, também, eu sei que eu e outros da minha idade reclamam de coisas que não fazem sentido algum para pessoas mais velhas. Então, estaríamos nós todos presos nesse ciclo em que a idade imediatamente anterior é representação de tudo aquilo que desprezamos na atual?

domingo, 29 de maio de 2011

Casada Com A Noite

No post anterior fiz uma análise mais jornalística do novo álbum de Lady Gaga. Agora, transcorrerei sobre o álbum num âmbito mais pessoal, considerando minhas percepções e viagens sobre a obra.

Como mencionei anteriormente, a visão de Lady Gaga para Born This Way [BTW] apontava para a criação de uma nova raça, como descrito no vídeoclipe do primeiro single, a música homônima ao álbum.

Particularmente penso que música Pop deve ser ouvida sob influência - qualquer uma. Sei, por exemplo, que Gaga compôs maior parte do álbum regada a uísque e maconha. Então, numa audição "influenciada" do álbum com Purki, percebemos o quão religioso o ele soa - daí a minha analogia com religiosidade e arte sacra, na review anterior, que tentarei desenvolver numa descrição faixa a faixa.

Seguirei a tracklist da versão deluxe do álbum. Obviamente é recomendável que se leia isso ouvindo-o.



Mary The Night [MTN] - Vocais quase a acapella, piano e órgãos. Quer prova maior do tom religioso do álbum quando ele é iniciado com esses elementos?
Aqui Mother Monster assume seu caso de amor com a noite, o ambiente no qual se passa sua história. BTW é um álbum escuro e talvez seja um dos meus pontos favoritos da obra. Lady Gaga referencia e incorpora os elementos entorpecentes da noite: o perigo, entorpecentes como o álcool, a guerreira-rainha que conquista as ruas com sua figura pecadora... a prostituta.
É uma faixa de abertura em essência, pois MTN tem um tom convidativo ao amor livre - base desse mito criado por Gaga. Apesar de recheada com clichês verbais ["I'm gonna lace up my boots/Throw on some leather and cruise/Down the street that I love/In my fishnet gloves/I'm a sinner"] e melódicos [os riffs de guitarra e backing vocals que remetem à música Gospel norte-americana], MTN realiza bem o papel ao qual se presta: chamar sua atenção e te fazer levantar e correr livremente - especialmente na conclusão. [Ótima música para aquecer na esteira da academia.]


Born This Way - "Não importa se você ama a 'ele' ou a E-L-E maiusculo. Apenas ponha suas patas para cima, porque você nasceu assim baby." BTW, a canção, é um manifesto à auto-aceitação e o amor próprio. Longe de se tornar o hino a que se propõe ser, BTW tem, a vantagem de ser uma faixa ultra empolgante. O refrão é infeccioso e a letra é perfeição pop - ou seja, ótima para cantar-gritar-rebolar.
Ao contrário da maioria, se fosse compará-la a alguma música de Madonna, o faria a Ray Of Light [ROL], não a Express Yourself [EY]. Produção a BPMs frenéticos? Sim. Guitarra acelerada de fazer as solas dos pés pularem? YES! Incontrolável remissão à pista? YEEEES! Repare como, tal qual Madonna em ROL, Lady Gaga começa sóbria, parte para uma batida esquizofrênica, atinge um certo tom moderado [no rap] e retorna ao bate-cabelo. Para mim, a única parte que remete a EY é a percussão na ponte para o final que contém caneca.
A conclusão é épica, sussurrada - quase inaudível - como se desse tempo para, na boate, jogarmos os braços pra cima e respirarmos. Por isso tenho um feeling de que essa música será grande na história.


Government Hooker [GH] - Aqui Gaga descreve pela primeira vez a personagem e protagonista da trama deste mito: a prostituta que tem como objetivo te servir. A diferença entre ela e as demais é: a prostituta oficial, institucionalizada - portanto, government hooker. Faz algum sentido? Não, mas por saber que você a ama, ela beberá as próprias lágrimas, será garota, sexo, mãe... contanto que você pague. Este é um traço interessante desse conceito de BTW: nada vem sem consequencias e ônus. Gostando ou não, Lady Gaga é uma provocadora e, por isso não pode ser desconsiderado da avaliação de  sua música.
A abertura dramática remete ao canto sacro, Ave Maria, especialmente quando ela canta em italiano ["io retorne", "eu retornei"], e cai numa batida imponente, obscura e definitivamente viciante.


Judas - Muito se falou sobre essa canção. Particularmente, ao ser lançada [tanto música quanto clipe], a descartei por ser muito parecida com Bad Romance [ambas compostas em parceria com RedOne] e pensar que a evidente polêmica religiosa era caminho fácil e datado para chamar a atenção. Quem nasceu "Judas" nunca será Like A Prayer.
Contudo, hoje, penso e sinto a música de maneira diferente. Mais que a recriação do relacionamento entre Maria Madalena e Jesus Cristo, a "Judas" de Lady Gaga é um comentário sobre as escolhas amorosas da mulher independente da modernidade. Ela me faz lembrar um episódio da primeira temporada de Sex And The City, no qual Carrie questiona se a mulher novaiorquina é viciada em homens que a tratam mal.
Lady Gaga, a auto-denominada "otária sagrada", diz:
I wanna love you, 
But something's pulling me away from you 
Jesus is my virtue, 
Judas is the demon I cling to 
I cling to
Apesar de safa e repetitiva em sua carreira, a batida dessa música é extremamente eficiente - principalmente quando se está bêbado sob as discolights. Gaga canta em autodepreciação - nos versos e rap -, já o refrão e ponte são doloridos. É dramático como Gaga e isso já é o bastante para me conquistar.


Americano - Uma mistura de tarantella italiana com descaradas letras em espanhol, Lady Gaga traz o Pop Latino-feito-por-norte-americanos com um tom despretensioso e divertido. Esqueça Alejandro com sua vibe La Isla Bonita, "Americano" é de te fazer pular e rodopiar, porque, assim como Gaga, você não vai entender nada do que seu amante está falando, você só quer saber de beijá-lo.


Hair - Mais um manifesto de liberdade, o eu-lírico de Gaga é aqui uma criança que sofre de abuso infantil.

Whenever I'm dressed cool,
My parents put up a fight.
And if I'm hot shot,
Mom will cut my hair at night
And in the morning,I'm short of my identity.
I scream "Mom and Dad,
Why can't I be who I want to be?"
A esse ponto do álbum você certamente já está cansado dessa pregação a uma liberdade platônica e adolescente, querendo pegar esse moleque pelos cabelos que ele tanto ama, chacoalhar e gritar: "CREÇA E APAREÇA!"
Mas eu não quero que você siga por este caminho. Pensemos nas músicas deste álbum pelo que elas podem causar sensorialmente. "Hair" pode ser um hino adolescente bobinho, porém há uma qualidade na música que é, no mínimo, empolgante. Aqui sua voz é suave, beirando uma inocência que é, no fim das contas, agridoce - pois você sabe quão pouco realista ela é.
"Hair" soa como faixa de musical e pensar em Glee pode não ser de todo o ruim porque, talvez, esta seja a única música que se feita pelo insuportável hit da televisão americana soaria como uma canção original.
O saxofone de Clarence Clemons é a cereja da música, lindamente colocado em companhia ao piano de Gaga.


Scheiße - Exatamente hoje, li no Facebook de Gaga:

"Fui a uma festa suja em Berlim e escrevi SHEIßE no dia seguinte. É sobre ser ousado sem permissão. Merda."
Não preciso de explicação melhor sobre a música. Apenas endosso que Lady Gaga, com ela, atingiu perfeitamente o intento da obra: "Scheiße" ["merda" em alemão] te transporta imediatamente para algum inferninho sujo, escuro e estourado em estrobo de Berlim assim que ela começa a cantar em loop esse refrão em alemão-falso, no melhor sotaque a lá Marlene Dietrich. Quando a imunda batida industrial chega você já não mais se pertence.
Minha música favorita do álbum, ela invariavelmente remete ao clima obscuro de Sex, obra literária erótica lançada por Madonna em 1992, e é tudo o que Christina Aguilera queria que seu álbum Bionic fosse: não necessariamente revolucionário, mas ultra excitante.


Bloody Mary [BM] - A prostituta está de volta para contar sua história. Evocando, mais uma vez, Maria Madalena, Lady Gaga despe sua personagem, revelando suas inseguranças, e o quanto sua própria generosidade para com o outro a machuca.
Mais uma vez Gaga é excelente em interpretação vocal, imprimindo em BM um tom sério o bastante para te fazer prestar atenção em sua pregação, para posteriormente exorcizar sua dor em falsetes que, eficientemente, exprimem o sofrimento contido do eu-lírico.
A letra constrói toda atmosfera frustrada da Bloody Mary, a mulher que amou profundamente o líder e foi exilada por todos após a partida dele. Ela, contudo, é a única que vive até hoje sob a sombra e peso do ser humano que ele era - que apenas ela conhecia.
Ao meio da canção, um canto gregoriano sintetizado nos lembra que é dela própria que Gaga está falando durante todo o tempo. Este canto prepara para o ápice da canção, que é a repetição de refrão como uma sensação de ultimato, finalizado com Gaga, cantando em agudo, "liberaté" - liberta-te.
É uma faixa épica, dolorosa e sangrenta que ouvidos mais afoitos quererão passar adiante. Eu, simplesmente amo.
A música é o marco da segunda parte do álbum que é mais introspectivo. A partir daqui, a fusão entre a carne humana viva e o metal forjado e frio está quase completa, as músicas serão mais obscuras, mantendo as batidas e sintetizadores sujos de "Scheiße", aliados a riffs de guitarra bem mais Rock do que Pop.


Black Jesus † Amen Fashion [BJ] - Lady Gaga conta sua história como jovem e artista aspirante ao estrelato em Nova York, cidade da moda e consumo como religião. É uma faixa Pop adorável, cantada por Gaga com um certo naivité e relembra a batida House de Vogue. Mas destoa do resto do álbum e funcionaria melhor como uma bônus ao final.


Bad Kids [BK] - Mais um manifesto... KA-BUM cala a boca Gaga! Mas não, essa música é - por falta de palavra melhor - fofa. Na letra Lady Gaga descreve a raiva rebelde de qualquer jovem socialmente desajustado e, assim, fica claro que Gaga, neste álbum, tem olhado mais para seu passado e juventude do que o futuro e presente contidos em The Fame/The Fame Monster. Pode-se achar isso tedioso, mas em termos artísticos, e até mesmo pessoais, é perfeitamente compreensível e aceitável.


Fashion Of His Love - Que ano é hoje, 1987? Essa é a música mais oitentista que Lady Gaga já fez. Remete, rapidamente, a True Blue, de Madonna, e é nada mais, nada menos que fofa.


Highway Unicorn (Road To Love) - Montada para ser uma epopéia Pop sonora, esta faixa, por algum motivo, falha em entregar o que promete. Gaga continua evocando o poder do "seja você mesmo" e talvez por isso ela soe um pouco enfadonha. Contudo, é uma faixa que cresce em você conforme se escuta o álbum outras vezes. Ademais, acho adorável como ela relaciona a pureza do unicórnio com guia na busca pelo amor, na eterna procura por um lugar melhor que onde se está.


Heavy Metal Lover - Lady Gaga descreve nesta e na canção seguinte o ambiente no qual seu mito acontece. Sujo e distorcido, um lugar onde todos parecem buscar a inocência esquecida por caminhos anteriores, mas que não renegam a realidade crua ao seu redor: "Dirty pony I can't wait to hose you down/You've got to earn your leather in this part of town". Os versos têm vocais distorcidos em vocoder e, quando ela chama pelo amante cru e pesado, é apenas calma e tranquila, dizendo que será sua garota, mas questionando sua capacidade de amá-la caso ela fosse quem dominasse o mundo.
É uma canção melancólica tanto em letra quanto em melodia, que tem uma dinâmica decrescente fantástica que, como disse acima, descreve o espaço no qual acontece o tórrido caso de amor.


Electric Chapel [EC] - Conforme se encaminha para o fim da história, "Born This Way" se torna ainda mais eloquente, mas suave, como o solo de guitarra contido nesta faixa. Por isso é superficial analisá-lo com a rapidez de quem parece somente ouvir as faixas-single, pois são nas faixas menos celebradas que Gaga descreve melhor sua visão.
EC é o único local, sagrado e seguro, onde Gaga/Bloody Mary/Mother Monster se entregaria ao "Heavy Metal Lover". E que fantástica atmosfera ele tem! Vocais serenos e o retorno do órgão, presente em MTN, mas calmo e sublime.


The Queen - Mais uma faixa que seria melhor colocada como bônus, soa como aquele número musical que o diretor deveria ter cortado da versão final do filme. Mas é interessante o quão próxima do Rock clássico ela é e, talvez, ela cresça em mim.


Yoü and I - Perfeita! Com toda a sua atmosfera Blues/Rock, é onde Lady Gaga dá um show de interpretação vocal, numa canção que soa como um hino bêbado e rock 'n' roll ao amor eterno, evocado pela figura de algum "Nebraska guy". Aqui Lady Gaga possui uma pungência emocionante, especialmente porque tanto sua voz quanto o arranjo estão despidos de produções e maquiagens.
É o ápice do álbum que se prolonga até seu final, na canção seguinte.


The Edge of Glory - "The Edge of Glory" é uma obra-prima, o verdadeiro hino Dance do disco. Ela contém todos os elementos necessários para fazer da pista de dança um lugar glorioso e mesmo que definitivamente se pareça com tudo mais que você tenha ouvido, nada disso tira a urgência da felicidade que a música traz - o que é irônico, pois ela foi escrita um dia após o avô de Gaga ser enterrado.
Contudo, para mim, não há homenagem melhor a alguém que morreu do que uma canção que evoque felicidade e vontade de dançar. "The Edge of Glory" começa sublime, num eco quase espiritual, que acompanha a introdução da batida. E quando você acha que já ouviu tudo, Lady Gaga mete um solo de saxofone (mais uma vez, Clarence Clemons que era ídolo do avô da Gaga) que é capaz de arrancar lágrimas de você.
É a música mais emocionante do álbum e vai ser um MONSTRO nas pistas, pode apostar.

sábado, 28 de maio de 2011

Heavy Metal Gaga


Born This Way [BTW] foi lançado segunda-feira e - durante o tempo que tive de uma semana freneticona - li críticas interessantes. A NME Magazine gostou, talvez por motivos meio obscuros; Sputnikmusic não gostou sob argumentos bem realistas; e a Folha de São Paulo falou mal, mas não disse nada com nada.

Existem duas formas básicas de tomar o novo álbum de Lady Gaga - e, consequentemente, toda a sua carreira até então. A primeira é com ouvidos conscientes, à lá o Sputnikmusic que se irritou com o teor pseudo-educativo do álbum.

Em "Born This Way", Gaga eleva sua sede por fama ao status religioso regurgitando elementos da arte sacra e techno/pop/rock industrial para criar sua própria mitologia, a da Mother Monster. Desta forma, se você é do tipo que presta atenção em letras e tem mais de 20 anos, BTW é uma longa e tediosa viagem. Abusando da filosofia do "seja você mesmo", Lady Gaga eleva-a a um certo dogmatismo quando, em seu mundo, não há outra opção de existência a  não ser "outcast, bullied or teased"; ou seja, quanto mais fora da órbita social você for maior será seu espaço no reino celestial da Mother Monster.

Isso pode ser grande para os little monsters presos na autocomiseração da puberdade; mas se você já deixou de ser adolescente há algum tempo e está inserido na sociedade como toda pessoa normal, com um emprego, faculdade ou, ao menos, um senso pragmático de quem você é e como se comporta... tédio!

Channing Freeman, do Sputnikmusic, nota o quanto a mensagem de Gaga pode ser ridicularizada, ao constatar que ela é baseada numa premissa que, quando adolescentes, a maioria de nós ignora: "Ser você mesmo não é o bastante. Deve-se lembrar que, às vezes, para sê-lo, você tem que mudar." Ele acrescenta que a própria Gaga entra em constante contradição em músicas como Bad Kids e Hair: na primeira ela se assume como uma enfant terrible para ganhar o paraíso, mas acusa os "outros" [pais, bullies, universo] de torná-la assim; e na outra ela se diz tão livre quanto seu cabelo, que pode assumir a forma, cor e tamanho que ela desejar - mas cabelos ficam secos, derretem, caem e morrem se você abusa da falta de limites... ou seja, há um limite.

É como se Gaga, aos seus 25 anos estivesse presa na imaturidade adolescente e estivesse cantando isso aos quatro ventos, como se fosse a verdade da vida. Mas como seguir tais conselhos vindos de uma mulher que, se diz livre em sua auto-expressão, mas tem sempre kilos de maquiagem e outras hiperbólicas toneladas de roupa e produção tanto em sua cara quanto em sua música? Os little monsters mais passados podem até se iludir, mas a grande maioria dos fãs e admiradores de Gaga o são justamente pela loucura de sua imagem, comportamento e forma de fazer sua arte. Não há necessidade de dogmatizar isso num "livro sagrado"/álbum.

Quando ela se coloca como guru espiritual dos bolinados, você, que já superou essa fase, apenas revira os olhos e pensa "shut the fuck up woman!"

Heavy Metal Sagrado

Mas há outro [e mais interessante] modo de analisar "Born This Way": a música e suas referências.

Thales de Menezes, pela Folha de São Paulo, criticou o álbum como "desleixado, sem inspiração, como se todos os envolvidos estivessem ávidos por preencher o número combinado de faixas (14) para sair dali e fazer outra coisa." Mas é só isso que ele tem a dizer? Menezes cai no redundante clichê de comparar Gaga a Madonna, mas nunca desenvolve seu argumento em direção à profundidade.

Numa era de constante regurgitação do passado, é complicado pensar que alguém realmente cria uma nova estética hoje em dia. Dos grandes artistas do século XX que ainda hoje produzem, poucos ou nenhum fazem algo diferente do que sempre fizeram. Talvez, o grande lance deste século seja a ressignificação e nisso Gaga, desde que surgiu, se mostra fenomenal.

Musicalmente, BTW é um álbum que não acrescenta muito à música Pop. Todas as músicas soam coladas de 1992, com elementos óbvios de synth-pop, dance e house do fim da década de oitenta e início da seguinte. Por isso é bem fácil e óbvio compará-la a Madonna ou ao EuroPop da época. Mas isso é preguiçoso, senão estúpido, pois há muito mais impresso neste trabalho.

Neste álbum, Gaga parece obcecada pela fusão entre "corpo humano" e "metal", na criação de uma nova raça. A impressionante capa do disco mostra-a meio homem/meio motocicleta e as próteses faciais que ela tem usado conotam uma severidade da figura humana pós-revolução industrial. A estética é obscura e metálica, indo das lingeries de vinil às impressionantes roupas de látex de Nicola Formicheti para a grife Mugler. Tudo isso está belamente expresso na imagem de Gaga e, também, nas músicas deste disco.

Na construção de sua mitologia, a Mother Monster aplica elementos sacros a pesadas batidas techno-industriais postos num contexto Pop e comercial. E o que líricamente soa forçado, musicalmente é apenas infeccioso. Canções como Government HookerScheiße e Americano têm climas decadentes que remetem à dramaticidade religiosa - tanto nos arranjos quanto na performance vocal de Gaga. Ao contrário do que escrevera Menezes, Gaga e produtores soam muito inspirados na construção de seu próprio mito, flertando com as artes cristãs alemãs e latinas.

Em canções com "Hair" e Bloody Mary ela imprime vocais dramáticos que evocam hinos religiosos amplamente revigorantes e melancólicos. E, como mencionara Dan Martin, para o NME.com, é em faixas sem toda a manipulação do "seja você mesmo" que ela se eleva e brilha intensamente.

The Edge of Glory é provavelmente a melhor faixa do disco; lembrando o estilo de Dance que dera nova decolagem à carreira de Cher em meados dos anos 1990, Gaga emociona com uma performance vocal que te transporta à época em que músicas eram feitas apenas para nos fazer sentir bem - daí vem aquele maravilhoso solo de saxofone do legendário Clarence Clemons, retirando toda a escuridão das faixas precedentes, dando-nos uma sensação de luz realmente paradisíaca.

Na balada Yoü and I a pegada Rock 'n' Roll apresentada meses atrás na turnê Monster Ball é reproduzida sem grandes exageros e distorções: aqui é Lady Gaga, seja ela quem for e apesar de toda sua parafernalha imagética, que ofusca com sua voz e carisma. A esse ponto, se você estiver disposto, tais questões se dissipam e você apenas curte a viagem.

Dancefloor Hooker

Por Lady Gaga ser alguém que se apropria de diversos elementos da Cultura Pop, é muito fácil desmerece-la de maneira superficial. Discursos de cópias e plágios são vazios porque, afinal, o que hoje pode ser chamado de original em estado puro? O grande atrativo de Gaga é expressar suas inúmeras referências de maneira única [e muito mais abrangentes às quais a acusam de copiar].

E se, finalmente, pode-se querer descartá-la por toda a baboseira de suas palavras e discursos, está mais que provado que na pista ela continua empolgando e reinando. "Born This Way" é um álbum que cresce quando simplesmente nos deixamos levar por sua produção ora repetida (Judas - que remete a Bad Romance) ora impecável ("The Edge of Glory"). De todo o caso, é uma obra que se conecta conosco por sua contradição e inegável capacidade de nos instigar.

[Nota: 9]