terça-feira, 14 de junho de 2011

Amnésia Pós-Bombação

Tenho uma teoria pessoal de que uma festa é muito boa quando, 24h após a sua chegada a ela, você tem a sensação de que ela aconteceu há milhares de anos. Hoje, dois dias depois da quinta edição da Glam, aqui em Vitória da Conquista, tenho a impressão de que tudo aconteceu há milênios atrás.

Quando foi anunciada a mudança da festa para o Clube da Derruba, houve um misto de alívio e escárnio. O último por boa parte de conhecidos meus que, tirando um sarro meio óbvio, compararam a uma outra festa residente do local, a Quinta Sem Lei. Eu, porém, senti um certo alívio, pois nada poderia ser pior que o calor infernal da 4a edição [acontecida na Zupi].

A Glam está crescendo e, no sábado, mostrou estar bem direcionada à maturidade. A produção ainda peca numa falta de identidade visual, mas, em termos musicais, um grande passo foi dado. A começar pela ordem do line-up. Infelizmente não presenciei o residente DJ Rick, nem o battle-set entre Sexy Sushi e Indiecents, cheguei ao meio do set do DJ conquistense Tony e aí se deu a primeira prova do bom desenvolvimento da festa.

Habitués das raves da cidade, os DJs Tony e Trindade sempre vem com sets carregados em experimentalismos saborosos. O problema deles nas edições anteriores era justamente a ordem dos fatores: colocados ao final, suas loucurinhas eletrônicas nem sempre eram bem compreendidas pela pista suada pelo bate-cabelo. No último sábado, contudo, Tony e Trindade brilharam no meio da programação com seus samples psicodélicos de fazer subwoofers estourarem deliciosamente.

Na ausência da estrela da noite, o gaúcho Maurício Bungi [seu voo fora cancelado devido ao vulcão chileno], a produção rapidamente trouxe o carioca Nuno Queiroz para preencher o line-up. Não conheço o trabalho de Bungi, porém Queiroz foi uma feliz substituição. Com uma leitura de pista fantástica, Queiroz tirou o fôlego do público diversas vezes, mantendo o dancefloor sempre em crescente êxtase. No momento em que foi lançada uma versão épica de Born This Way, da Lady Gaga, não havia - pelo menos ao alcance de visão - quem não estivesse em transe. Particularmente, este foi o ponto alto da festa, pois, constatei o poder da faixa de Gaga: sim, ela é um hino!

Posteriormente vieram DJ Chiquinho, de Salvador, com seu set estrambólico misturando Funk carioca [YES VALESKA!] com Axé baiano que, apesar de nem sempre me agradar, certamente possui um identidade interessante e que não deixa barato na pista; e depois - já amanhecendo - DJ Junior Faiatt (Itabuna), com um set mais centrado em Beyoncé - que confesso, não tenho dado conta.

Uma balada se faz pela música. Claro que todos os outros fatores como local, decoração e público contribuem para o resultado, mas é a música o catalisador de tudo isso. Ao fim da festa (literalmente, pois só saí ao final do final), ficou a adorável sensação de uma noite incrível e, no meu caso, um alívio de ter investido numa festa que valeu a pena.

Que venha a próxima!

domingo, 12 de junho de 2011

The Lost Boys

Fonte
Ontem na Glam havia uma quantidade interessante de garotos jovens e bonitos; alguns eram até de tirar o fôlego. Mas a convivência por horas, observando seus comportamentos, mais até que flertando, me fez sentir um pouco deprimido: o que vem acontecendo com essa geração, imediatamente após a minha, que parece que todos esses garotos gays estão mais perdidos do que deveriam? Explicarei.

Quando era era adolescente e pouco depois dessa fase, ser gay ainda não era a modinha que é agora. Ah você pode discordar dessa moda, alegando que homofobia é cada vez maior e clara, mas isso porque, penso eu, quando uma coisa está em grande voga, a rejeição a ela também se apresenta com a mesma força. Terceira lei de Newton, ação versus reação.

Então, se a homofobia é chocantemente explícita hoje é porque a homossexualidade também tem sido da mesma forma. E não é apenas na aceitação da cultura queer ou da ousadia de muitos em dar a cara ao tapa e serem quem eles querem ser; um exemplo é a representação dos estereótipos homossexuais nas novelas que, apesar de irritantes, eu acho ao menos interessante que estejam aparecendo, dando, assim, margem para a discussão.

Daí, se ser gay no colegial ainda é algo difícil, ao menos hoje - pelos exemplos que conheço - parecer gay já não é grande coisa. Digo, ainda há discriminação e violência, verbais e físicas, nas escolas, mas a quantidade de garotos e garotas visualmente gays/lésbicas em idade escolar hoje em dia é, admito, surpreendente pra mim que nem sou tão velho.

Muitos me perguntam como eu consigo ir a festas, dançar, beber e fumar até de manhã e não ficar com um garoto sequer. Eu geralmente respondo que já passei da fase de ter a festa/boate/inferninho gay como lugar para extravazar minha sexualidade. Hoje em dia, eu a expresso sem medo em minha atitude cotidiana, pois, em muitos aspectos, eu transpus a barreira do olhar alheio no entendimento de quem eu sou. Porém, apesar de não estar no meu lugar ideal como pessoa, eu sustento bem aquilo que me proponho a ser e expressar. Por isso, não é importante para mim "sair à caça".

Fonte
Quando vejo tantos garotos pelas ruas, voltando das escolas [públicas, vale ressaltar] com suas calças skinny, cabelos estrambólicos e sensos de estilo essencialmente gays [sendo eles, gays ou não], fico um pouco fascinado por essa aparente abertura. Mas a superfície, apesar de fascinante, é essencialmente enganadora, e não há melhor lugar para observar o quanto ela esconde certas coisas como no habitat natural da comunidade gay: a pista de dança.

Há 5 edições, a Glam tem se firmado como a única opção digna da comunidade gay conquistense e regional. Com uma população essencialmente adolescente/pós-adolescente, as beeshas teens se jogam e a grande maioria é aquilo que nunca seriam no cotidiano com os pais, amigos e etc. A pista de dança se torna um refúgio onde é permitido fazer tudo que se tem vontade, pois - em tese - estamos todos num dia de folga da escravidão das convenções sociais e medos de assumir nossas identidades.

Mas por que, quando eu vejo essas pessoas atiçadas pelos hormônios da juventude, raramente sinto que ali há um comportamento baseado numa aceitação e vivência concreta da sexualidade?

Vou exemplificar. Havia um garoto na festa que era lindo. Podia ter qualquer um, mas ele vinha tendo todos - todos que, em comparação a sua beleza, eram aquém de sua capacidade de conseguir alguma coisa. Evidentemente bêbado, ele, sempre que o via, estava se atracando aos beijos com um cara pior que o outro. E, sempre que ele saia, fazia uma cara de desgosto pelo que acabara de fazer.

Ao olhar ao redor, ele não era o único. Havia um outro que estava com um cara mais velho [e feio] que não parecia muito feliz com sua escolha. Então, estariam eles, motivados pela "obrigação da caça", a se jogarem nas primeiras oportunidades sem nenhum tipo de critério? Ou talvez essa geração está se descobrindo nas relações sexuais sem sustento emocional ou noção das consequências de suas atitudes? Ou, simplesmente, ela se caracteriza pela ausência de critérios?

Quando penso, e comparo comigo mesmo, sinto que devo admitir sem modéstia que sou privilegiado em muitos aspectos. Na Glam, um amigo me disse que eu tinha pais riquíssimos e ele não estava falando de dinheiro. Tive que concordar, pois eu não passei por metade das dificuldades que muitos que conheço passaram ou passam para que a família aprenda a, ao menos, conviver com sua condição.

Minha história de vida, e a de muitos dos meus amigos, ajudou a construir a pessoa que sou hoje e a ter uma melhor pauta na expressão de mim mesmo. Contudo, ao que me parece, a juventude de hoje tem expressado sem pudor sua sexualidade, mas está longe de compreende-la como um todo.

Isso é meio triste.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

La Mudernidade

A vida contemporânea nos traz milhares de vantagens com as quais não saberíamos mais viver sem. Smartphones, wi-fi, Facebook, Twitter... todas essas revoluções da comunicação rapidamente entraram e se fixaram em nossas vidas. Com elas é possível saber de tudo que você precisa para ter um ingrediente importante na busca de todo tipo de conhecimento: informação.

Mas como todo bônus tem seu ônus, junto com toda maravilha vem os entulhos. Hoje em dia, é normal se deparar com uma absurda quantidade de informação irrelevante ou pura e terrivelmente indesejada.

Na minha busca por preencher meus horários-críticos de carência*, me delicio com meu vício por séries, mulheres fabulosas, Nova York... Sex And The City! Em meados da sexta temporada me deparo com um episódio que não necessariamente se encaixa no perfil das informações indesejadas, mas que não estavam em meus planos anestesiantes. Nele, toda a discussão era sobre o número 1: seja o cara da sua vida, o emprego... a única coisa que falta para você ser finalmente feliz.

Lindo episódio! Me emocionei e as porra... dormi... e o tema me perseguiu durante o sono até o momento de acordar e ainda me deparar com ele como primeiro pensamento da manhã: até quando nossas vidas estarão pautadas na busca daquilo que nunca chega? E quando é que nossas distrações modernas saem pela culatra e nos lembram exatamente daquilo que queremos abstrair?

*Momentos em que a vida de solteiro SUCKS.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Same Ol' Same

Ontem, por conta de uma pauta de trabalho, fiz o chaperone de três adolescentes típicas. Combinei com uma amiga que levaria a irmã dela de 14 anos e as amigas para um passeio, assim eu conseguiria as fotos que precisava para minha pauta.

Adolescentes: "stuck in both heaven or hell"
A adolescência é o tempo mais terrível de nossas vidas. Pelo menos é assim que eu a vejo. Na noite anterior, numa barulhenta conversa de sábado, eu e uns amigos relembrávamos a grande quantidade de babaquices que éramos capazes de fazer e dizer na época de adolescente. Em geral, adolescentes são seres bizarros, com corpos em crescimento desproporcional [braços gigantes, cabeça maior que tudo mais] e um senso definitivamente curto de si próprio e do mundo. Podíamos nos achar extremamente superiores ao mundo que não compreendíamos, para detestá-lo logo em seguida porque não conseguíamos exatamente o que esperávamos dele.

É engraçado que, quando adolescentes, nossa noção de que a vida e o mundo são bem maiores do que o momento presente é bem curta; o tempo não existe para além da idade que se conhece [12-18 anos], mas se deseja e anseia por coisas ou ser alguém que não se é agora. É uma contradição constante que me faz pensar que quem vive em eterna e nervosa ligação/desejo por aquilo que não é agora, vive, de algum modo, preso na adolescência. A irmã da minha amiga, por exemplo, reclamou várias vezes dos cabelos e não adiantava falarmos o quanto ele era normal e bonito. Um garoto com quem converso no MSN, um pouco mais velho [16 anos], reclama da solidão constante de sua vida, mas não sai, não aproveita o tempo para conhecer lugares e, talvez, pessoas.

Eu fui assim durante boa parte da minha adolescência e estar em contato com esses garotos, assim como saber das histórias de amigos meus que não foram pubescentes comigo, me faz pensar o quão espiralado é o tempo. É outro tempo, mas ele não é completamente diferente do que vivemos há alguns anos. Aos meus 16 anos eu era tímido, a ponto de não ter um pingo de coragem em fazer/pedir o queria, tinha todo tipo de desgosto por minha aparência física e comportamental, mas, ao mesmo tempo, me mantinha estático e inerte perante a isso. Eu não gostaria de ter esse tempo de volta de jeito nenhum, muitos concordam comigo.

Entretanto, há quem deseje, pois da mesma forma que na minha convivência atual há seres ativos e passivos, na adolescência também havia quem tinha todo o frescor e confiança da juventude e absolutamente nenhum pensamento no que estava por vir. O fato de já não serem mais crianças, levam os teens a pensarem que nada mais está para mudar em suas vidas. Já nós, na casa dos 20, sabemos o quanto mudamos de lá para cá e, muitas vezes, nos pomos desesperados para que as coisas continuem mudando.

A irmã de minha amiga e suas amigas passaram boa parte do tempo reclamando de coisas completamente irrelevantes para a minha idade. Internamente, eu e minha amiga ríamos delas, contudo, também, eu sei que eu e outros da minha idade reclamam de coisas que não fazem sentido algum para pessoas mais velhas. Então, estaríamos nós todos presos nesse ciclo em que a idade imediatamente anterior é representação de tudo aquilo que desprezamos na atual?