terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Bênção da Tristeza

Apesar de geralmente gostar, eu tenho um problema com todo esse movimento Indie da música Pop. Desde que compreendi que Indie é um termo mais abrangente que apenas corruptela da palavra independent, percebi que a questão da música indie não é a música, nem os artistas que a fazem, e sim a prepotência daqueles que a ouvem e "consomem". Hipsters metidos a fora do establishment industrial do Pop, o que muitos fãs de música independente não percebem é que a própria indústria abocanhou absorveu esse segmento, sendo que hoje é bem complicado designar determinada música ou artista como independente.

Ainda assim, o termo existe e é hoje usado para qualificar um estilo, não a condição de outsider do artista. Muitos podem ser chamados de independentes pelo estilo de música que fazem [fora dos padrões mercadológicos do momento], mas a partir do instante que têm suas músicas vendidas no iTunes já não estão fora do balaio industrial.

Explicada a minha relação com a música Indie, pulemos para o que interessa.

Os Álbuns de 2011
Wounded Rhymes
Lykke Li

Em atividade desde 2007, a sueca Lykke Li provem de uma onda européia que dominou a cena independente do Pop entre 2007 e 2008. Seu debute, Youth Novels [LL, 2008] foi um festival de arranjos minimalistas que impressionou a maioria dos críticos ao redor do mundo; eu, me senti bem entediado - talvez eu devesse ter fumado mais maconha pra escutá-lo na época.

Mas seu segundo álbum, Wounded Rhymes¹ [LL, 2011] mostrou um progresso imenso em musicalidade, pois, enquanto as canções de "Novels" parecem fadadas à apreciação indie, em "Rhymes" a produção é mais arrojada, carregada num ritmo metálico, com uma Li mais rock 'n' roll e exposta, tanto no teor das letras quanto no poder vocal - que deixa a melosidade aguda do primeiro álbum, vestindo uma persona mais obscura e ardente.

O tema central do álbum, como já sugerido pelo título, é uma catarse da mágoa e da tristeza e decepção em diversos níveis. Deprimente? Sim, mas a música composta por Li e seus parceiros - Björn Yttling (produtor deste e de "Novels") e Rick Nowels (Madonna, Dido, Nelly Furtado) - estão longe da timidez do álbum anterior.

A canção de abertura, Youth Knows No Pain, é um chamado poderoso de celebração da juventude, cheia de frescor e comportamento autodestrutivo. Quando Li entoa o eloquente refrão,


So come on honey blow yourself to pieces
Come on honey give yourself completely
And do it all although you can't believe it
Youth knows no pain
Youth knows no pain
²

se reconhece a condição agridoce do jovem, que precisa se entregar, jogar e repartir em pedaços para compreender a evolução da vida. No primeiro single, I Follow Rivers, Li busca a profundidade romântica através de metáforas aquáticas e na seguinte, Love Out Of Lust, deseja a sentimentalidade da luxúria - etérea e melancólica.

Tal melancolia, presente em todo o álbum, tem seu ápice estético em Unrequited Love. O fabuloso lamento, que lembra os melhores momentos de The Reminder [Polydor, 2007] de Feist, inicia com Li em palmas e acapella declarando as dores do amor intensificadas pela não correspondência. O mais bonito da faixa, além da bela performance da cantora, são a única guitarra e o coral em eco que a acompanham, desenhando o senso de solitude da canção.

O álbum atinge seu clímax em Sadness Is A Blessing [de onde foi tirado o título do álbum], onde Lykke Li abraça a dor e a tristeza como seu único e verdadeiro companheiro e namorado. Outro lamento, "Sadness" tem um arranjo envolvente como um repentino ataque daquela tristeza que só é exorcizada se permitida a ser.
Demonstrando uma evolução notável de sua estréia, em "Wounded Rhymes" Lykke Li vem mais poderosa e confiante. Forte e eloquente, o disco é um exemplo maravilhoso de como um álbum pop pode ser um profundo estudo temático, tanto em musicalidade quanto em versos. E, aniquilando minha intriga, reconheço que muitas vezes isso só é possível quando não se tem as pressões mercadológicas sobre os ombros da criatividade. E, com esta obra, Lykke Li demonstra que a música indie pode ser espaço para a profundidade criativa, intelectual e não apenas pose.

¹Literalmente: "rimas feridas"
²Literalmente: "Então querido se exploda em pedaços/Venha e se entregue por completo/E faça tudo isso mesmo que não acredite por completo:/[Que] A juventude não conhece a dor"

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Ficha Técnica Wounded Rhymes: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- Cannibal
- Cinderella's Eyes
- When The Sun Goes Down
- Intro

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