quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Epítome do Trash

Os Álbuns de 2011
Cannibal
Ke$ha

Depois de anos exposto e curtindo música Pop se aprende que, mesmo não gostando de determinado artista, você em algum ponto vai gostar de uma música ou álbum dele.

Ke$ha para mim sempre foi um desses produtos da nova geração simplesmente ignorável. A voz totalmente distorcida nunca foi um problema per se, o negócio eram as canções nada inovadoras em termos musicais, sobre ficar bêbado e fazer merda, superestimadas por adolescentes que mal tinham vivido um terço daquilo esganiçado por ela. Além do mais, o cabelo seboso e a cara de fedida sempre me deram nos nervos. Em suma, Ke$ha sempre fora a epítome do trash: Tre$ha!

E ainda é, só que de repente [mas não surpreendentemente], seu EP Cannibal [RCA, 2010], lançado como parte da edição deluxe de seu debute [Animal, RCA 2010], se instalou em meus ouvidos e mente exatamente por assumir e desenvolver aquilo que sempre considerei de Ke$ha: um ser tão trash e descarado. Mas que, mordendo minha bunda, pode ser até bom!

Em "Cannibal", ela descreve melhor sua persona maltrapilha e vulgar. Isso acontece, mais específica e diretamente, na fantástica Sleazy, daquelas faixas infecciosas que não é espantoso que você se pegue gostando dela de graça. Declarando não precisar de nenhum tipo de simpatia ou aprovação, ela se diverte como um pária social, de modos ruins e boca suja. E o que faz disso engraçado e até excitante é justamente a atitude nemli e despreocupada com a qual ela recita os versos, sobrepostos numa batida difícil de ignorar, se batidas são sua praia.

Enquanto os temas são os mesmos de sempre, o senso de humor dela é inegável e capaz de anestesiar sua consciência, restando apenas o delicioso instinto de se jogar na diversão. Possível hino da geração dos prazeres frívolos, We R Who We R soa nada mais nada menos como um hino, só que sem pretensão nem esforço em sê-lo. E, confesso, é bastante complicado resistir a chamados de simples e puro recreio, como acontece novamente em Blow, a melhor faixa por construir um momentum nos versos que magnificamente explode no refrão, como sugere o título. É daquelas canções em que, quando na boite, se para de fazer tudo [comprar álcool, fila do banheiro, amassos com o gostosão] pra se jogar na pista.

Quando revela mais de si mesma, ela não deixa de lado o sarcasmo, nem mesmo a autodepreciação. A faixa-título abre tudo como um chamado selvagem e sedutor, mesmo com ela declarando que vai comer seu cérebro no final de tudo [viu, nojenta!], e em Grow A Pear ela escracha um namorado que se comporta como uma mulher na TPM, numa atitude FUCK OFF capaz de te chocar ou [se você é do tipo que curte de vez em quando a vilania humana, como eu] regozijar: "you should know that I love you a lot, BUT I JUST CAN'T DATE A DUDE WITH A VAGG!"*

No fim das contas, enquanto podemos continuar torcendo nossos narizes finos e sofisticados para Ke$ha, ela  segue sendo o monstro viscoso e fedido que se propõe a ser, sem em momento algum hesitar em jogar sua gosma em nossas caras. E isso é, na minha opinião, uma atitude memorável pelo simples prazer na eventual sordidez.

Mas, se nada disso ainda te convence, tente escutar "Cannibal" em cima de uma esteira ou elíptico. Duvido que resista!

*literalmente: "você deve saber que eu te amo bastante, mas não posso simplesmente namorar um cara com uma xana!"

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Ficha Técnica Cannibal: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- Cinderella's Eyes
- When The Sun Goes Down
- Intro

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