Em alguns casos é simples e perfeito amor à primeira audição. Os anos se passam e você já tem um padrão do tipo de música que vai te captar e arrebatar nas primeiras BPMs. Me dê uma produção infecciosa, com vocais psicodelicamente editados num refrão de se agarrar e amar, e batidas de putinha on the dancefloor e você me têm dominado.
No caso de Nicola Roberts foi uma adorável surpresa. Sou fã da girl band britânica Girls Aloud e o hiato do grupo frustrou quando os esforços solo de Cheryl Cole [a primeira delas a se aventurar sozinha] se tornaram razoáveis, mas irrisórios comparados à produção requintada e excitante do Xenomania para os álbuns de sua banda de origem. Já com Roberts, a mesa virou.
Cinderella's Eyes [Polydor, 2011] pode ser pensado como aquele prato que há em qualquer restaurante, só que logo na primeira mordida você se surpreende com o sabor e temperos escolhidos. O título é um cliché de revirar os olhos, mas as pegadinhas se tornam interessantes já na arte da capa. De todas as Aloud, Roberts é [para mim] a mais interessante: seu rosto é definitivamente estranho e ela está longe de ser a glamazona [glamour + amazona] que são suas companheiras de grupo. Se comparada aos padrões atuais, ela pode ser chamada de feia [e foi, como se pode saber pela última faixa, Sticks + Stones, balada de sinceridade forte]. Contudo, o imprevisto do álbum já pode ser notado na foto da capa, onde vemos uma Nicola toda vestida, de olhar perdido, sentada num trono em meio a quinquilharias. E essa aparente bagunça é o principal ponto positivo de um álbum Pop cinco estrelas.
Produzido, em sua maioria, pelo francês Dimitri Tikovoi [Madonna, contrate esse cara já!], Cinderella's Eyes começa com a fantástica Beat Of My Drum [BOMD] - co-produzida pelo atual queridinho das divas Pop "junkies por batidas", o DJ e produtor americano Diplo. Conhecido por sua produção rica em elementos que vão do dancehall e hip hop ao funk carioca, Diplo foi responsável por eternos hits de M.I.A. [Bucky Done Gun e Galang] e, mais recentemente, Who Run The World (Girls), da workaholic irritantemente onipresente Beyoncé. E é com esta música que gosto de comparar BOMD.
Ambas são compostas por batidões de banda marcial e vocais super alterados em autotune, editados e recortados. Ambas contém os habituais refrões grudentos e são, inevitavelmente, parecidas. O que faz de "Beat Of My Drum" uma faixa superior a "Who Run The World"? Nicola! Enquanto a faixa de Beyoncé é produzida, editada e mixada para fazer a diva aparecer - com suas letras entediantes de girl power sobradas da época do Destiny's Child -, "Beat Of My Drum" é estrelar porque não tenta fazer de Nicola Roberts uma diva da pista. Em BOMD quem brilha é a própria canção, não o Alexander McQueen da cantora [Beyoncé], sendo uma faixa de ótimo conteúdo musical - reparem nos sintetizadores frenéticos que perpassam toda a canção.
Com um poderoso primeiro single como este, é delicioso constatar que o álbum é um primor, não apenas em produção, como também na apresentação de Nicola. A mais tímida das Aloud se mostra aqui como uma artista inventiva, inteligente e que realmente tem algo interessante a dizer em suas canções. As letras autobiográficas de todo o álbum transpassam as canções de amor insípidas dos dois álbuns solo de Cheryl Cole, os manifestos feministas rasos e prolixos de Beyoncé, Rihanna e etc, exalando senso de humor e honestidade, tais quais a de inteligentes artistas escandinavas como Robyn e Annie.
Lucky Day [produzida pelo adorado grupo hipster Dragonette] relembra em tese os adoráveis standards Pop dos anos 1950, só que transformados por revigorantes sintetizadores - do tipo de botar sorrisos em sua cara enquanto você caminha ou dirige pela cidade. A balada Yo-Yo [Tikovoi] é poderosa e emocionante, onde o doce vocal agudo de Roberts eleva a letra ao status épico que uma digna canção de amor deve se inserir.
Os pontos altos do disco são as faixas produzidas pelo genial grupo britânico Metronomy. Fish Out Of Water e I carregam a produção experimental, harmônica e bonita características irrefutáveis do Metronomy, associada aos excelentes versos de Nicola. Em I ela discorre sobre os medos humanos que a dominam e contra os quais luta, num cativante tom melancólico e timbre a la Kate Bush de tirar o fôlego.
Com isso tudo, Nicola Roberts e seus parceiros fizeram de Cinderella's Eyes um espaço não designado para o show da artista, apenas porque ela é a estrela e contratante do projeto. O que faz do álbum uma obra prima da música Pop em 2011 é o bem sucedido trabalho dos produtores, livres para criarem boas músicas e não simplesmente hits, em conjunto com os insights pessoais fora do comum e desempenho de Nicola Roberts.
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Ficha Técnica Cinderella's Eyes: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- When The Sun Goes Down
- Intro
Ambas são compostas por batidões de banda marcial e vocais super alterados em autotune, editados e recortados. Ambas contém os habituais refrões grudentos e são, inevitavelmente, parecidas. O que faz de "Beat Of My Drum" uma faixa superior a "Who Run The World"? Nicola! Enquanto a faixa de Beyoncé é produzida, editada e mixada para fazer a diva aparecer - com suas letras entediantes de girl power sobradas da época do Destiny's Child -, "Beat Of My Drum" é estrelar porque não tenta fazer de Nicola Roberts uma diva da pista. Em BOMD quem brilha é a própria canção, não o Alexander McQueen da cantora [Beyoncé], sendo uma faixa de ótimo conteúdo musical - reparem nos sintetizadores frenéticos que perpassam toda a canção.
Com um poderoso primeiro single como este, é delicioso constatar que o álbum é um primor, não apenas em produção, como também na apresentação de Nicola. A mais tímida das Aloud se mostra aqui como uma artista inventiva, inteligente e que realmente tem algo interessante a dizer em suas canções. As letras autobiográficas de todo o álbum transpassam as canções de amor insípidas dos dois álbuns solo de Cheryl Cole, os manifestos feministas rasos e prolixos de Beyoncé, Rihanna e etc, exalando senso de humor e honestidade, tais quais a de inteligentes artistas escandinavas como Robyn e Annie.
Lucky Day [produzida pelo adorado grupo hipster Dragonette] relembra em tese os adoráveis standards Pop dos anos 1950, só que transformados por revigorantes sintetizadores - do tipo de botar sorrisos em sua cara enquanto você caminha ou dirige pela cidade. A balada Yo-Yo [Tikovoi] é poderosa e emocionante, onde o doce vocal agudo de Roberts eleva a letra ao status épico que uma digna canção de amor deve se inserir.
Os pontos altos do disco são as faixas produzidas pelo genial grupo britânico Metronomy. Fish Out Of Water e I carregam a produção experimental, harmônica e bonita características irrefutáveis do Metronomy, associada aos excelentes versos de Nicola. Em I ela discorre sobre os medos humanos que a dominam e contra os quais luta, num cativante tom melancólico e timbre a la Kate Bush de tirar o fôlego.
Com isso tudo, Nicola Roberts e seus parceiros fizeram de Cinderella's Eyes um espaço não designado para o show da artista, apenas porque ela é a estrela e contratante do projeto. O que faz do álbum uma obra prima da música Pop em 2011 é o bem sucedido trabalho dos produtores, livres para criarem boas músicas e não simplesmente hits, em conjunto com os insights pessoais fora do comum e desempenho de Nicola Roberts.
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Ficha Técnica Cinderella's Eyes: Wikipedia
Álbuns de 2011:
- When The Sun Goes Down
- Intro

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