quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Keide Cultura Fashion?

Ao ser perguntado por Mônica Horta sobre o que é "cultura fashion", o maravilhoso diretor de arte e estilista Jum Nakao respondeu:

Jum Nakao: trocou as semanas
de moda pela direção de arte
Eu acho que é uma cultura que ainda tá engatinhando no País, né, se você pensar em termos de mercado. Acho que, em termos de produção, se você avaliar o trabalho desses novos estilistas, mesmo dos estilistas que já estão no mercado, você vê uma grande evolução técnica, estética, e o mercado ainda não responde. É como se nós tivéssemos poetas declamando ou escrevendo pra um público ainda analfabeto, sem cultura fashion. A cultura fashion que existe é a cultura de idolatria, de consumo de marcas, que é uma coisa de países emergentes, que a gente tem no Brasil mesmo, e o outro tipo de público que é aquele que busca preços né. Aí nós temos o que então: os designers, estilistas, que estão exatamente nesse vácuo, porque o conteúdo que eles fazem, que é o conteúdo de design, tem um público sensível ao design. E em termos de preço, jamais vão conseguir competir com preços de produtos vindos de países agressivos, com políticas de renúncia fiscal, exportação, enfim, é um segmento ainda a ser desbravado, que precisa romper com essa obscuridade, com essa falta de cultura fashion, essa falta de sensibilidade fashion do público mesmo né, porque senão nós temos esse cenário aonde existe conteúdo, mas não existe mercado consumidor.

Lindo Nakao! Os fashionistas deste país deveriam tomar isso como mantra antes de abrirem a boca... aliás, alguns editores de moda também.
Da extensa lista de pessoas que responderam à pergunta de Horta, apenas Nakao deu uma resposta decente: tirando as modelos e os fashionistas menores - de quem não se espera muita coisa inteligível mesmo  (oi Isabeli Fontana! oi Johnny Luxo!), muitas falas como a de Dudu Bertholini, Maria Prata e Glória Kalil (nomeio os bois mesmo!) foram decepcionantes ou óbvias. Mas tudo bem, voltemos à de Nakao.
A coisa que mais me instigou nela foi sua elegante visão crítica do mercado e das pessoas que o compõem [designers/estilistas/fashionistas/consumidores], batendo na tecla que de uma maneira geral falar de identidade ou cultura, seja de moda ou de qualquer coisa, no Brasil é algo muito delicado, visto que nós mesmos não fazemos idéia do quão noobs somos.
Enquanto estamos apenas agora nos dando conta da importância histórica da moda na nossa sociedade, em outras milenares, como a francesa, cultura de moda é algo tão intrínseco e natural que ela já transcendeu o que Nakao chamou de "cultura de idolatria". Como disse a legendária editora de moda brasileira Regina Guerreiro em resposta a Horta:

Cultura fashion não é só saber história da moda. Porque, na realidade tem que considerar a moda, em conseqüência do que está acontecendo no mundo. Então, se você olhar o mundo a longo prazo, vai ver que a moda sempre é uma conseqüência do que tá acontecendo em termos de cabeça, em termos históricos, em termos de economia.

Nós ainda estamos presos nessa "fase oral" da cultura fashion na sociedade. Ao mesmo tempo que temos um público carente de cultura e entendimento dessas coisas citadas por Guerreiro, temos uma indústria - admitamos - muito pouco interessada em formar esse público, querendo sempre manter-se exclusiva e elitista.
Hey, nenhum problema quanto a isso! Mas dessa forma, sejamos mais honestos e assumamos que somos muito mais Blair Waldorf do que Lady Di.

Blair Waldorf: evil dictator of taste
Lady Di: princesa dos pobres

Um comentário:

Tamara disse...

A 1ª sapatada é minha é??? Não precisa de muito estudo pra perceber... O Brasil é tão emergente, mais TÃO, que ainda tá querendo não só ter marcas mas mostrá-las. Quanto maior a atiqueta melhor!!! E viva aos idiotas que pensam que são fashion!!!