quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mágicos Não Existem


Um dos indicados ao Oscar de Melhor Animação, O Mágico de Sylvan Chomet (As Bicicletas de Bellville, 2003), é um adorável ensaio sobre o velho versus novo e a manutenção de uma inocência sempre anacrônica.

A história é de um ilusionista que, após se mudar para o Reino Unido, faz amizade com uma garota escocesa fascinada por sua mágica. Alice, a garota, passa a segui-lo por todos os lugares, especialmente porque ele representa uma idéia mágica de prosperidade. Assim sendo, o Mágico Tatischefe, se desdobra para manter viva a ilusão de Alice: faz bicos aleatórios para sustenta-los, não apenas com o básico mas com as crescentes demandas consumistas de Alice, ao mesmo tempo que mantém sua tradição artística.

A dualidade entre novo e velho está justamente na relação entre Tatischefe e Alice, num mundo em que ele e sua representatividade são cada vez menos relevantes. Parece século XXI certo? Mas não, a trama se passa no fim da década de 1950, quando tradicionais shows de ilusionismo eram substituídos por rock stars afetados; se ainda soa familiar é porque como lembrou Marcelo Hessel em sua crítica desse mesmo filme: o mundo é dos jovens, não importa a época.

Contudo, a beleza d'O Mágico está justamente em sua habilidade em não ser amargo, apesar de melancólico. É aí que reside a adorável inocência do filme e suas personagens, abrigadas num velho hotel em Edimburgo habitado por seres artísticos em extinção. O iminente desaparecimento deles é triste por representar a nostalgia de um tempo em que o mundo era menos cínico. Porém, perto do final, o embate eterno entre tradição e novidade fica mais evidente, mas não é tratado por Chomet com partidarismos ou unilateralidade. O filme é agridoce porque é esse o sentimento que nos vem quando deixamos algo para trás, sabendo, todavia, que há um mundo diante de nós para ser conhecido e explorado.

O Mágico teve seu roteiro adaptado de um manuscrito
do legendário diretor francês Jacques Tati.

O Mágico com certeza não ganhará o Oscar no dia 27 de fevereiro (oi! Toy Story 3?!), porém é uma excelente opção pra quem curte animações bem feitas quanto à técnica, delicadas e profundas quanto ao roteiro.

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