terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Paula

Paula, adulta e criança


Há dias decidi escrever sobre Paula antes mesmo de terminar sua história; porém o momento era perdido entre as preguiças e os afazeres cotidianos.

"Paula" é meu primeiro romance de Isabel Allende. Peguei-o emprestado há meses na casa de uma amiga e desde então venho protelando sua leitura, dentre outros livros e, mais uma vez, a preguiça indisciplinante. Mas agora, em sua reta final, a cada página e parágrafo me deparo com lindas imagens prosaicas, que me lembram o quanto nem sempre a minha lentidão na leitura é ruim: acabo tendo o melhor dos livros no momento certo.

Numa autobiografia não declarada, neste romance Allende conta a história de sua família, de si mesma e de sua filha, Paula, numa narrativa fácil, que se torna complexa quando a autora se coloca de forma pungente e despretenciosa, tornando mais tênue a linha entre realidade e ficção.

Com um senso de humor afiado, que não absolve nem a si mesma, ela descreve os diversos personagens de sua vida de forma fantástica, devido à sua admitida incapacidade de manter sua imaginação fora de sua escrita, e generosa, por cultivar com carinho e amor a verdade em cada um deles.

Talvez isso se dê pela natureza de seu relato: o livro surge a partir da necessidade de registrar para a filha, abatida por um coma decorrente de uma crise de porfiria, sua própria história. Ao mesmo tempo em que a revisa e escreve, a fim de tê-la para Paula quando (e se) acordar do coma, Allende parece exorcizar espíritos, pretéritos e presentes, ao longo das tramas de seu passado idílico e do presente angustiante motivador dessa produção.

Em passagens asfixiantes e emotivas, ela conta sua história cheia de eventos, sem abortar a gestação constante de uma esperança de partir o coração. Desde sua formação como ser humano, ao caminho que a levou à literatura, Isabel Allende recria e nos presenteia a íntima relação entre mãe e filha: desprovida de manipulações ela delata seus temerosos sentimentos e emocionante força, confiante de que, assim como Paula, nós iremos naturalmente compreende-la.

Porque todas as linhas deste livro são colocadas de maneira honesta e amorosa, nós nos envolvemos e ansiamos por saber o desfecho da história de Paula e, talvez, por isso quis escrever sobre ele antes de terminá-lo.

Num momento extremamente pessoal, ela revela as possíveis razões de continuar seu relato, apesar de mais longínqua a recuperação da filha, efetivando os seus - e não obstante, universais - laços com a vida: "Se escrevo alguma coisa, temo que ela aconteça, se amo demais alguma pessoa, tenho medo de perdê-la; no entanto, não posso deixar de escrever, nem de amar..."

Um comentário:

Halanna disse...

ihrr menino!
vai logo trabalhar com isso vai!
¬¬'